domingo, 10 de maio de 2009

Entre quatro paredes, Sartre (1944).


Acabei de ler o quarta edição do livro Entre quatro paredes de Jean-Paul Sartre. Um livro pequeno de 130 páginas, com um enredo instigante para ser lido em uma tarde, e já qu'eu estava embalado pelo clima de final de semana silencioso, no horário que todos dormem "após o almoço", fiquei no sofá, deleitando-se sobre as páginas que explicitam o que Sartre pensava sobre o Inferno.

Uma peça teatral de 1944, em uma quarta edição de 2008, um livro para se ler quando o desânimo bate, aquela vontade de saber o que há por trás das ações humanas que nos irritam tanto. Até descobrirmos:
"O inferno são os Outros"
O Sartre é admirável por esse senso de divulgação filosófica através da arte cênica, colocando o existencialismo de forma didática, para compreenderem de fato o que é o "em si" e o "para si", que ele conceitualiza dificilmente, melhor fenomenologicamente no livro "O ser e o nada" (uma parte).

Logo na introdução feita por Sanches descubro o quão gratificante será a leitura do livro, a descoberta das consciências humanas (existem outros táxons também) que se sobrepõem em meu dia-dia, meus infernos diários. Descobri muitos infernos durante as falas, ou melhor, tetrálogo:

"Garcin - Inês - Estelle - Criado"

Respectivamente, um literato que torturava a mulher e que fugiu sem se tornar herói, uma lésbica que destruiu as relações de um casal, uma dondoca com que matou o filho e fez o amante pobre se matar, e o "criado" com uma aparição inicial, que se entuasiasma com o comportamento dos hóspedes da hotel. Sendo que há algo em comum entre os três primeiros: estão mortos.

O hotel, conta com uma estátua de bronze, uma lareira, três canapés, uma porta fechada e uma luz eterna. Sem noite e, consequentemente, sem sono. Com flashs de acontecimentos externos.

Portanto, os três vivem para os três, ninguém mais reconhece a existência deles mesmos. Não podem interferir no mundo real, não podem interagir durante os flashs (do que acontece externamente ao hotel) com as pessoas que conviviam.

Após descobertas e mais descobertas, acabam ficando despidos. Os que eram fortes ficam frágeis, os que era frágeis se revelam carrascos. São interrogados, e não podem sair de perto um do outro, afinal, são dois "para si" existenciais. Não se podem perder dois personagens, pois ali acabaria a existência do que restou. O "em si" por si só, não existiria.

Após diversos conflitos de convivência, tentativas de relacionamentos amorosos, a peça acaba e continua. Até onde? Não sei, mas sei de algo: o inferno são os "Outros". Os três descobriram na conscientemente o quanto são inoportunos.

O melhor foi saber que o Sartre recusou o nobel de literatura por questões de consciência, ou seja, por questões infernais. Por vezes, o melhor é se isolar.

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