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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Somos duplamente determinados

A compreensão do mundo ‘como ele é’ desdobra-se, de forma geral, a partir de dois domínios indissociáveis. Em primeiro lugar, o domínio biológico. É graças a nossa organização biológica que conseguimos distinguir e interpretar os sinais aos quais somos sensíveis no meio. Somos um organismo uno, no entanto tão fragmentados quanto nossa própria origem. O olfato, o paladar, a visão e o tato são, de certa forma, janelas de possibilidades interpretativas.

Mecanismos fisiológicos de perceber e sentir, através das quais fazemos a leitura do mundo e, a ele, imputamos sentido.

É neste ponto que surge o segundo domínio.

Compreender significa atribuir valores, decifrar, registrar, computar. Significa tratamento de dados, análise informacional. Nossas ferramentas de coleta de dados sobre o mundo é tão ampla quanto nossa janela de possibilidades interpretativas. Estes dois processos se complementam de tal forma, que a sua dissociação pode vir a ser patológica, como nos casos em que o corpo torna-se ausente de psique, perdendo o fulcro do que é real e do que é delírio.

Traduzido e transcrito por nossa rede neuro-fisiológica e hormonal, o mundo, gerado na ordem da psique, é sempre uma representação do real. Uma leitura, uma narrativa, e como qualquer narrativa, é influenciada pelo seu interlocutor.

É nesse ponto de intersecção que precisamos considerar a influência cultural, gritantemente evidente até mesmo nos espaços que se dizem ser laicos. Esta escolha é cultural.

Mesmo dispondo do mesmo equipamento biológico para interpretar o mundo, pré-definido geneticamente, os sentidos não proporcionam uma visão singular sobre um mesmo fenômeno. Novamente, são apenas janelas de possibilidades interpretativas. Mas como?

As diferentes maneiras de sistematizar o conhecimento são a chave para entender como um sistema que é definido biologicamente para compreender os mesmos inputs, pode gerar outputs tão distintos. Cada comunidade, local e tempo possui uma linguagem comum, um pacote de códigos e signos sobre o mundo e as coisas. Este conjunto de códigos funciona como regras interpretativas que condicionam o pensar – demarcam a estrutura do pensamento e as relações com o meio ambiente – objetos, fenômenos, pessoas, relações sociais. Como uma rede, esta estrutura social é passada para todos aqueles que se encaixam no mesmo padrão.

Em síntese, esta dinâmica traça as fronteiras da cultura que, de forma simbiótica, condiciona a compreensão dos fenômenos, alicerçando a visão de mundo dos indivíduos, fundando sua compreensão sobre a Natureza. Paradoxalmente, Natureza e cultura se complementam. Como posto por Bruno Latour em Jamais fomos modernos, são conceitos híbridos, assim como nós. As nossas estratégias de compreender o mundo são testemunhas deste fato. São carregadas de subjetividade, de laços culturais, de limitações, de regras, de valores. Não há uma forma pura, ausente de juízo, para compreender os fenômenos do mundo. Somos duplamente determinados.

Thiago Severo

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Visões: biológica e social

Quando o assunto em discussão é humanos, é bastante comum encontrar a dicotomia entre ser social e ser biológico. Sociólogos, antropólogos, psicólogos, dentre outros, costumam construir a imagem do ser humano como ser excepcionalmente racional, pouco instintivo e não animal. A capacidade de formar e entender palavras, subjetivar símbolos, atividade cognitiva, trabalho e divisão social são argumentos fortes dos “sociais” que reprimem os conceitos dos “estudantes da vida”.

Os biólogos, em geral, não criam hierarquias diferenciando humanos de não-humanos; somos animais, mamíferos, primatas, como muitos outros. Acreditamos, em geral novamente, que a mente seja resultado de processos do desenvolvimento “normal” de qualquer indivíduo com telencéfalo desenvolvido, bem ou não.

Na tentativa de um consenso entre ambas as classes, sempre há discordâncias.

O ser humano é o produto de reações biológicas, sendo essas a priori genéticas, e fisiológicas. Os animais também. Somos instintivos, reagimos de acordo com o que sentimos e os nossos sentimentos são demandas e reações bioquímicas/biológicas. É indiscernível caracterizar um ser humano como “não animal”. Essa seria a definição biológica sobre nós.

O ser humano é o produto do meio social no qual está inserido. Os costumes, crenças e culturas de determinada população são os principais fatores que influenciam o desenvolvimento social e psicológico do indivíduo, segundo pesquisadores sociais. A convivência e a educação são fatores que estão relacionados entre a geração parental e os descendentes. Tais fatores definirão aspectos excêntricos que farão de cada indivíduo um ser único. Se nada disso estivesse correto, o que explicaria então que gêmeos univitelinos tem personalidades e gostos diferentes? Essa seria a definição sociológica sobre nós.

Várias colocações dos sociólogos e companhia fazem sentido, porém são incompletas. O ponto de partida é a formação da mente. Ela é ou não biológica? Até que ponto as reações químicas e bioquímicas formam a mente? Não temos a resposta ainda, mas há de se considerar que a mente é formada durante o desenvolvimento embrionário e que está sujeita à epigenética. Carácteres epigenéticos são aqueles que são formados a partir de genes, mas precisam de estímulos do meio para serem ativados/desativados. É a famosa pré-disposição genética.

Não há consenso entre biólogos e cientistas socias, e como água e óleo parecem ser imiscíveis. Existe um pedantismo e uma falta de literatura de ambas as partes. O que poderia ser unido em prol da ciência desfecha em unilateralidade e parcialidade.

Do ponto de vista biológico, do qual sou fielmente adepto, exponho simples conjecturas para tentar entender todo o problema. Por exemplo, o indivíduo não nasce cem por cento pronto. Não é possível ler o DNA de uma criança e dizer se ela terá tal personalidade ou não. Personalidade e mente são bem complexos, muito provavelmente formados por fatores complexos. Acreditamos que no futuro, talvez bem próximo, será possível saber, por exemplo, se um bebê poderá ser um assassino ou não, apenas lendo seu DNA. Obviamente que isso não é fardo nem destino. São probabilidades. É a pré-disposição.

O que se pode afirmar atualmente é que se há mais nos genes do que na mente de quem estuda a mente. O biológico, que é tão forte, torna-se escondido devido a dificuldade/escassez de estudos sobre o tema e divulgação à nível acessível para as demais ciências. Talvez também um certo preconceito ou “despreocupação” por parte das áreas diferentes.

Quanto mais evoluir a genética e as ciências biológicas, mais conheceremos sobre a verdadeira interação entre genética e ambiente. Por enquanto, são só paliativos. Não há uma resposta concreta às perguntas abstratas. Se a mim coubesse o poder de descrever o que é a mente, diria indubitavelmente que são apenas reações. Apenas química. Com traços de física, genética e sociologia.

Uirá Souto

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A história da teoria da “Geração Espontânea”

Queria compartilhar com vocês um pouco de filosofia sobre a história e os experimentos que tentaram provar a Teoria da Geração Espontânea (TGE).

A TGE surgiu historicamente com os pré-socráticos na Grécia antiga, porém existem relatos sobre textos mais antigos que abordavam superficialmente o tema. Alguns relatos do antigo Egito e das antigas civilizações orientais, remetem a aparição de animais que pareciam surgir do nada. No Egito, por exemplo, acreditava-se que os crocodilos nasciam da lama do rio Nilo toda vez que ele transbordava. Esse pensamento foi basicamente o mesmo utilizado pela civilização grega pré-cristã. Os filosofos pré-socráticos observavam a natureza e tiravam conclusões da mesma. Uma delas seria o surgimento de vida, principalmente o surgimento de ratos, moscas e baratas, a partir de ambientes sujos, lixo, lama ou corpos em putrefação.

Pensadores como Thales e Empédocles escreveram sobre a origem de animais e plantas a partir de elementos pré-existentes na natureza, como a terra e água. Pouco depois, Demócrito de Abdera propôs a existência do átomo, que seriam partículas minúsculas que, quando organizadas, geravam a vida. Epicuro de Samos, alguns anos depois, concordou com a ideia da existência de átomos, só que ele relatou que todo o processo para formação de vida pela geração espontânea era um processo natural, não divino.

Pouco antes da filosofia de Epicuro sobre a GE, o grande Aristóteles discerniu sobre o assunto. A partir de trabalhos de campo, observando animais e plantas, ele chegou a conclusão de que: “Todas as coisas vivas são formadas pela junção de matéria com o princípio da ‘forma’, a alma”. Para Aristóteles, a vida só poderia aparecer quando a matéria era unida a alma. A ideia de Aristóteles sobre a GE permaneceu durante aproximadamente 700 anos como sendo a origem da vida.

700 anos depois de Aristóteles, cerca de 400 depois de Cristo, a igreja utilizou dos conhecimentos já existentes sobre a GE e a modificou: agora, Deus é o criador de todas as coisas. As ideias de processo natural proposta por Epicuro e processo natural associado à alma de Aristóteles foram utilizadas e modificadas por “Basil the Great” (um dos líderes da Igreja do leste). Juntamente com “Augustine of Hippo” (líder da igreja do oeste), essa nova teoria sobre a origem da vida foi propagada para toda a Europa. Esse pensamento ficou inerte durante um milênio, aproximadamente.

Durante a Idade Média, nada de novo surgiu em relação à TGE. A ideia de que a geração espontânea dos organismos vivos acontecia por um processo divino era algo concreto e todos tinham essa informação como verdade absoluta. Esse pensamento durou até pouco antes do Iluminismo, quando o homem voltou a se questionar sobre o assunto.

Descartes, no século 17, voltou a fazer do homem um ser pensante e afirmou que a GE não era um processo divino, era um processo natural. A partir da quebra da filosofia teocentrista, o homem passou então a utilizar de método experimental para discutir a origem da vida. Redi foi o primeiro a atacar a GE, fazendo um experimento simples que provava que a vida não surgia do nada. Pouco depois descobriu-se o mundo microscópio.

Diversos experimentos foram feitos nesse período, uns apoiando a GE e outros tentando derrubá-la. A “briga” mais famosa foi a travada entre Needham e Spallanzani. Needham utilizou um frasco de vidro, colocou água com açucar e outros nutrientes e tampou o bico do vidro.

Ele esquentou a mistura diversas vezes e em todas os experimentos ele observou que os microorganismos morriam mas depois surgiam novamente por meio da GE. Spallanzani repetiu o experimento de Needham só que aumentou a temperatura e deixou ferver a mistura por mais tempo. Resultado: nenhum microorganismo na amostra. Needham usou a desculpa de que se aquecer demais a mistura, ela perde a “força vital”. Piada.

Depois de outros experimentos interessantes, apenas um convenceu a comunidade científica, o feito de/por Pasteur. Por meio de experimentos com microorganismos, ele provou que mesmo qndo exposto ao ar, que seria a “força vital” proposta por Needham, a mistura que teria sido esterilizada não apresentava vida. Com esse experimento ele derrubou de vez a GE e confirmou o pensamento proposto por Harvey (1578-1657) que dizia: omne vivum ex ovo (Tudo que é vivo vem do ovo).

Essa história contada no livro de A. I. Oparin, The origin of life on Earth, contém detalhes riquíssimos sobre o pensamento, experimentos e discussões do período de cada pensador. Ele conta como tudo iniciou e como tudo terminou. Recomendo a leitura do primeiro capítulo que discute sobre o assunto. Durante milênios uma teoria foi construida e fortificada erradamente, construíram um edifício em um terreno de lama. Tudo devido ao erro no método científico.

Uirá Melo

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

CHAMADA DE TRABALHOS


O Holística Diária (HD) nasceu como uma forma de um grupo de amigos, agora biólogos e pós-graduandos das mais diversas áreas, expor suas ideias de forma livre, baseando-se no compartilhamento como forma de produção científica, o que depois aprendemos é a base da ciência como conhecemos. Dessa forma, o HD retorna após uma história curta, porém repleta de sucesso, com milhares de acessos de todos os locais do mundo.


Com uma história dessa, agora o HD reaparece na mente de seus criadores como uma forma de continuar divulgando o conhecimento científico, sim, porque para a base editorial do HD todo o conhecimento é científico. E partindo desse ponto, temos o prazer de convidar a todos os interessados em compartilhar seus pontos de vista com o restante do mundo, na tentativa da construção de uma linha de pensamento sem preconceitos, a enviar textos dos mais diversos temas, para que possamos ter um perfil realmente holístico.


Os interessados devem enviar seus textos juntamente com imagens, caso ache que essa vai representar bem suas ideias, para o e-mail hdiaria@gmail.com , os quais passarão pelo crivo inicial de uma equipe editorial composta por alunos de pós-graduação de áreas afins.

Esperamos que este convite venha como uma boa notícia para aqueles tem sede por conhecimento e pela sua construção.


Corpo Editorial - HD

sábado, 27 de junho de 2009

Filogenia Pluft

Os programas de análise filogenética levam em consideração uma matriz de dados (caracteres x táxons) para construção de uma árvore filogenética. Nesta árvore são mostrados os valores de parentesco (sinais filogenéticos) entre um galho e outro. Alguns chegam próximos ao valor de 100, outros tem forte sinal de parentesco com 85, de 75 abaixo o sinal é fraco. Isso segundo o livro do Horácio.

A utilização da análise de parcimônia compreende a passagem da homologia primária para a homologia secundária. Além dos valores de parentesco, temos que ver a coerência biogeográfica das espécies encontradas. Dentro de um gênero, podemos ter espécies do Japão, da Noruega, do Alasca e da África do Sul, por exemplo, África do Sul e Japão com sinal filogenético forte é sinal de incoerência, e a partir daí temos de retirar as homoplasias (evoluções independentes, embora com produtos parecidos, iguais).

Foi-se o tempo em que os filogeneticistas esperavam onze meses - vide Swofford, manual do PAUP - de busca ininterrupta no Pentium II para se chegar a uma estimativa filogenética, sendo esta última não necessariamente, a ideal. Com o PAUP (Phylogenetic Analysis Using Parsymony), este tempo inteiro era gasto através de uma busca exaustiva, e por isso impraticável, desnecessária. Com o NONA, esse tempo de busca em uma análise semelhante o tempo de onze meses caiu para quatro horas - vide Goloboff, manual do NONA. A revolução fica pelo programa TNT (Tree analysis using New Technology), o mesmo Goloboff do NONA mais o Farris e o Nixon, mostraram que uma análise pode ser feita em 10 minutos.

O artigo Methods for Quick Consensus Estimation, do Goloboff & Farris (2001) nos mostra o histórico dos problemas, do efeito dos diferentes parâmetros usados pelos programas de análise filogenética para estimar as relações de parentesco, e o suporte relativo pela feição de árvores otimizadas através de algoritmos específicos.

Algoritmos, isso é o que muda, entre um e outro programa. Ferramentas necessárias para o uso em filogenia. Observando os abstracts do Willi Hennig Meeting Society, que inclui a participação de diversos brasileiros, o programa mais utilizado é o TNT. Embora com parâmetros diferentes, um resultado mais rápido é necessário, e uma nova discussão baseada nestes parâmetros é fato. PAUP e NONA deixados para trás, assim como o Hennig86 (interface DOS).

E assim a ciência evolutiva avança, que elegância.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

FIlogenia e Linguagem


Artigo n.º 25 de minha carga de leitura retomada.

Grata surpresa ao abrir o artigo da Rexovà et al. (2003) baseado na filogenia da linguagem indo-europeia, baixei por curiosidade, após a gigantesca revisão e não me arrependo.

O trabalho nos mostra origens e divergências da lingua, baseados em diversos caracteres léxico-estatísticos. Não fica só na base dos números e vai mais além, incluindo a fonologia, dita como "glotocronologia".

Interessante saber também que a linguagem indo-européia não é híbrida, e a linguagem mais próxima - a Hitita - faz parte do enraizamento da árvore filogenética. De onde veio a linguagem indo-européia, qual a hipótese contando com um único ancestral? No artigo são propostas duas : que a linguagem IE nasceu em Anatólia, ou nasceu na região da Ucrânia, e o nascimento desta linguagem faz parte da origem dos próprios europeus.

É explícito que as palavras homólogas, inferidas pela argumentação da "descendência com modificação", formaram 85 classes (equivalente aos táxons) e 200 caracteres comparados, em 25 destes mais de 32 estados diferentes, ou seja improvável de se analisar em programas como PAUP que permite 32 estados no máximo, fazendo com que a "?" flua durante a análise.

O resultados e a conclusão do trabalho servirão para melhorar a reconstrução histórica dos europeus, principalmente quanto aos significados e significantes, ajudando em filogenias dos ancestrais antropóides que viveram naquela região.

Imagino em um futuro não muito distante, a filogenia da fala com o inclusão do gene FOXP2 e adjacências, sendo o FOXP2 a raiz da árvore da linguagem.

domingo, 7 de junho de 2009

Cabaços, Bodes, Álcool e Ciência

Dos sóbrios aos intoxicados se incluem os mijados pela cabrita. Em artigo proposto pelo grande etólogo Antônio Souto, o álcool é sinônimo de fartura feminina durante a noite. ou melhor, madrugada. O sucesso reprodutivo fica mais alto, e as chances de rejeição são menores aos diversos gêneros "a" que aparecem, e somem, aparecem e somem, ou como o artigo propõe, se transformam.

O artigo foi descrito didaticamente por Ribamar, um grande amigo de sala e fã do etólogo citado anteriormente, que com Aécio, outro grande amigo. Juntos formamos o grupo de pesquisa instantânea, cadastrado no Conselho Ofídico Campinense, para os estudos festivos de campo. Nada de pranchetas, usamos o método view and talk (assim em inglês é melhor aceito e alegorado). Algumas analisadas foram destalks² (sic), outras nem tanto. Trocadilhos infames que se perpetuaram madrugada afora.

Estávamos em Cabaceiras-PB. Festa do Bode Rei, logo adianto, uma grande chacina de caprinos.

Mas, voltando ao viés heurístico, o que estava no artigo aconteceu depois de uma cartela de doses:

A detecção da simetria ficou menor. As faces que passavam tinham traços mais coesos, retos, harmonia total.

A culpa?
Xixi da cabrita.

Uma moda em Cabaceiras é tomar uma bebida enjoada, tão doce que arrepuna! O xixi fez vítimas. Colocar a culpa no xixi não é certo, certo é colocar no artigo do Souto na revista Perception. No final, éramos nós os objetos pesquisados. Estávamos lá, com a cartela de doses vazia no início da festa, todos encharcados. Após duas doses, muita chuva, muita dança e alegria ao reencontrar amigos, fazer novos amigos. Acabamos por formar uma quadrilha, alegramos sozinhos a festa. Na festa o público era dividido em:

Cantores, os des(talks) e nós, o grupo, Aécio, Ribamar, Larisse e Monique. Esta última estrela do forró, a estrela da noite, um tanto cadente, mas lá com toda aquela produção maravilhosa roliudiana. Esteticamente abrupta. Não entendeu? Então, só vivenciando o momentum hilário: "- Arroxa Riba, só falta você!".

Deixamos Monique de lado, Larisse some, e ao pararmos ao lado de grupo de mulheres produzidas, começamos a inferir, quantas argolas de zinco no braço fazem o senso-crítico feminino abaixar, qual era o modo destas olharem disfarçando o flerte. Aécio cita duas olhadas e uma alisada no cabelo, como sinal positivo para a paquera. Cito aquela olhada por trás dos amigos, onde um alvo fica entre você e ela, como um eclipse lunar, onde uma beirada de olho (Lua) separa o receptor da conversa (Terra), de você (Sol). Nunca fui muito de paquerar olhando, o poder da palavra é bem maior, e é nele que me aprofundo. Lá estava ela, a palavra, sendo que aquele público não sabia conversar um papo produtivo, diria que elas perguntaram:

"- Qual a banda de amanhã?"
"- Você vai para o Parque do Povo?"
"- Mulheeeeeer, Forró do Muído vai ser ótimo!"
"- Faz que curso?"
"- Você está bêbado?"

Esta última pergunta, teve um quê sarcástico. Se a revista era perceptions, foi agora que percebi, cai em si, sou fruto de minha pesquisa, aliás de nossa pesquisa. Começar a falar palavras bonitas em uma festa não cai muito bem, começa aquela eloquência denigrente! Enfim, eu estava bêbado. Bêbado, cansado e com sono. Falando palavras difíceis.

A aventura de João Pessoa direto para Cabaceiras, sem direito a parar em Campina Grande, e com direito a moto-taxista passar em diversos sinais vermelhos é hormonalmente adrenalínica.

Voltando à percepção. Os três gritam, "Viva Antônio Souto!" E lá se vai mais uma dose, canecas ao alto. Arriba (ao nosso colega ribamar), Abarro (à caneca de barro), Assento (é bom descansar), Bode Rei! Antônio Souto! Aomijo! E lá se ia mais uma noite festiva debaixo de uma grande chuva, onde os populares faziam jus aos caprinos, debaixo das barracas e do salão da festa.

Tragicômico. Intoxicado por álcool, com vontade de dormir. Tudo que passava era belo, até algumas spoanzetes (em homenagem às pesquisas da querida Silvana) e lá se vão mais alguns milhões de risos. Depois de algumas doses, meu olhar clínico decai. Acho que errei até a Síndrome, embora aquele passo "três e meia" não me engane!

Noite maravilhosa, super produtiva. Com a última banda da sexta-feira desafinada, fomos dormir, após uma última observação nos exemplares femininos do palco e, claro, comentários quanto a simetria bilateral, como se portavam os músculos após intenso trabalho. Todos veêmentemente concentrados (hipnotizados?) com tal locomoção harmoniosa às quinze para as cinco da manhã. Olhando ao palco fixamente.

Deixamos o local da competição, e nos retraimos ao nosso aconchegante local reduto de descanso. Sempre adulados pelo grande Riba, e por dona Rita. Bem recebidos em Cabaceiras, boa ida, boa volta, boa refeição vegetariana. Com direito a passada no Rio Taperoá, na padaria do filme do João Grilo e tocar no "coco"¹ do bode, segundo ditados populares, se tocar no "coco" dele, o desejo se realiza.

Nada de fotos, nem pavãozagem. Esse modo de atração do macho, ter um rabo atrativo, só no gênero Pavo. Pior do que as fotos em cima dos caprinos espalhados artisticamente pela cidade, era desfilar com a "rainha do bode", um grande gênero Callitrix em cima de uma carroça de burro, muito pouco assediada e com o sucesso reprodutivo baixo.

Durante o início da noite, antes da manifestação artística sonora poluente, ainda participamos da eleição desta "Demi Moore" caprino-roliudiana, com nossa torcida: "- Camarão", "- Capeta!"; "- Bicha boa!"; "- Sem bunda!"; "- Rapariga!"; "- Trombadinha!" (em sinal ao desfile "muito simétrico" de uma das candidatas); "- Poliana", esta última não sei quem era, todos gritavam, tínhamos de ir no embalo, baixar o nível e liberar serotonina. Colocando, claro, nosso símbolo ao falarmos! O grande losango, mais conhecido como rombo!

De resto, uma caneca de barro de recordação e uma vontade de criar um etograma apropriado aos festejos urbanos/juninos/julhinos/agostinos... Quem se gabarita?

¹saco escrotal
²sem conversa

quinta-feira, 4 de junho de 2009

God bless the Etology and Capitalism

As bases da etologia têm ganhado bastante destaque nas áreas humanas com a evolução de pesquisas genéticas, onde fatos antes observados em homens e animais são provados a partir de sequencias gênicas semelhantes entre esses organismos. As ciências sociais tratam o ser humano como espécie a parte dos demais animais, embasada na criação da sociedade como meio separante das outras espécies, dentre elas também os primatas. O que se observa é uma má-interpretação de informações que tende abjungir humanos de primatas. A sociedade humana tem como base evolutiva as mesmas sociedades de alguns primatas, por isso acredita-se que ambas sociedades surgiram de um ancestral em comum. Nessas sociedades de primatas há separação de indivíduos nomeados popularmente como mais fortes e mais fracos. Nas sociedades desses primatas isso ocorre através da diferença do vigor físico eminente dos machos. Nas sociedades humanas esse carácter hierárquico se dá através da criação e da retroalimentação positiva do capitalismo. O capitalismo afirma que indivíduos têm uma vida toda para obtenção e acúmulo de bens, tais fatores refletidos como insight reprodutivo, aumentando as chances de sobrevivência e maior oportunidade de passar os genes adiante, nos indivíduos mais fortes (ricos). A permanência da hierarquia se mantém pelo contínuo acúmulo de de bens dos indivíduos, reforçados pela substistência hormonal. Os hormônios atuam como guias nos indivíduos, levando-os a tomar decisões antes achadas como sociais, agora embebidas na ciência. O comportamento animal é feito através desses mediadores químicos, que proporcionando/restrigindo prazer/dor, acomete todas as ações dos indivíduos. A manutenção excessiva de uma certa carga hormonal leva ao vício. O gene (xxx) representa uma parte de genes responsáveis pela formação e estabilização da sociedade humana. Esse gene produz mediadores químicos que liberam no indivíduo sensações de prazer perante o acúmulo de bens. Indivíduos que possuem predisposição genética para ativação desse gene tem o comportamento ambicioso para obtenção e uma supervalorização de bens materiais, sendo todas essas ações hormonais. Outro fato marcante é a aceitação errônea de ações antrópicas como sendo ações não-naturais. Ações antrópicas são tão naturais como a das outras espécies. Modificamos o meio como forma natural de sobrevivência. O mesmo evento é produzido por várias outras formas de vida, divergindo apenas em escalas e proporções. Dentre todos esses fatores citados, há como primeiro-motor o regimento da evolução biológica. Todas as espécies sofrem pressão evolutiva, onde variantes do meio e de genes elimina ou propiciona o desenvolvimento dos organismos. Deve-se ter em mente que o homem, juntamente com sua sociedade, execra os mandamentos evolutivos. O homem é a principal espécie que permite a sobrevivência e subsistência de indivíduos genéticamente mais fracos. Para haver evolução, deve-se eliminar do meio os indivíduos mais fracos ou menos aptos ao meio que estão inseridos. Com a invenção da medicina e o avanço tecnológico, o ser humano extinguiu tais leis e criou sua própria forma de divisão intraespecífica, o capitalismo. Através de estudos genéticos/etológicos e também sobre evolução biológica, denota-se a forte influência de uma sociedade regida pelo capital, demonstrando não haver caminhos opostos a esse fabuloso sistema.

domingo, 31 de maio de 2009

Caracter e Sistemática

O que seria um caracter para a sistemática?

"um atributo, um conjunto de atributos, um traço, uma característica, uma propriedade, uma parte, uma morfoclina, uma diferença, uma homologia, uma verdade, uma teoria, um aspecto (de um organismo), uma base para comparação, uma similaridade, e (matematicamente) uma variável, uma função, um mapeamento, uma relação equivalente, e um conjunto de distribuições probabilísticas. (Colless, 1985)

Complicado, não?

Ou uma série de transformação, como Hennig (1966) costumava dizer.

O paper do Grant/Kluge (2004) mostra a influência da transformação, dos caracteres como indivíduos históricos, bem como homologia igual à identidade histórica e diferente de sinapomorfia. A grande briga do conhecimento sobre descendência com modificação que impera desde os tempos de Darwin, tem um fundo de verdade, o transformacionismo, as séries de transformação baseadas nos elementos históricos, indivíduos históricos. Outra característica importante é a parcimônia sendo o método investigatório da filogenia, separando a homologia primária da secundária. A última situação nos revela os eventos que têm uma história por trás, tem uma raiz comum, as homologias, que diferem das sinapomorfias devido aos eventos separados e específicos de um grupo final, um grupo que ocupa a ponta de um galho da grande árvore, uma "Cesalpinacea" da vida.

Colless, D.H., 1985. On character and related terms. Syst. Zool. 34, 229–233.
Hennig, W., 1966. Phylogenetic Systematics. University of Illinois Press, Chicago, IL.

sábado, 30 de maio de 2009

Falseabilidade e Latinismos

Viva Popper, o modus ponens, e o modus tollens.

Os dois termos expressam característica da epistemologia, o cerne da ciência dentro dos cladogramas (árvores hipotéticas de biodiversidade) cheia de induções, aquelas intervenções humanas para tentar se chegar à algo. Claro, depois de analisados os fatos históricos e rigorosamente enumerados. O poder dedutivo dentro dos cladogramas existe, mas o indutivo é bem maior, as famosas hipóteses ad hoc. E falseável, é claro, pelas homoplasias = convergência de caracteres para uma função, mesmos caracteres com origens distintas, melhor, uma evolução independente.

Viva a biologia evolutiva. Os cladogramas, as deduções e as séries de transformação.

O artigo de Vogt (2008) que trata sobre a falseabilidade dos cladogramas, é bem claro quanto à isso. As homoplasias seguem a contramão das apomorfias, e nelas devemos nos embasar para ver o quão os cladogramas são científicos. Falseáveis, de fato.

Outro artigo, agora de Kluge (2003) nos mostra as diversas citações, a problemática das deduções entre as relações de parentesco. As explicações causais dos fatos nos levam ao que podemos chamar de história, explicamos o processo, o acontecimento do evento, como se deu. Através dos produtos, dos fins. O Kluge dá uma série de 11 argumentos pró-filogenia.

E cita no final, que há um conhecimento objetivo histórico dentro da filogenia, portanto pode ser tratada sim como ciência, embora não testável, não "popperável".

E assim a ciência avança, que elegância.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Hipóteses Evolutivas Cavernosas(ícolas)

Lendo artigos da Cladistics sobre a problemática da Evolução da fauna Cavernícola, encontro os clássicos do Grandcolas, D'Haese e Gnaspini. Este último pude conhecer pessoalmente em visita à Paraíba.

O artigo "The problem of characters susceptible to parallel evolution in phylogenetic analysis: a reply to Marquès and Gnaspini (2001) with emphasis on cave life phenotypic evolution" Desutter-Grandcolas, L. et al. - 2003 - nos leva à problemática da evolução paralela e as consequências desta escolha ad hoc sobre os resultados. Na cladística há muito destas problemáticas ad hoc, para minimizar seus efeitos são citados dois métodos: (1) aplicar as hipóteses dos troglomorfismos depois da inferência filogenética em cima da topologia ou (2) colocar os troglomorfismos documentados na distribuição dos estados dos caracteres no cladograma.

Os troglomorfismos como caracteres de interesse são cavernosos. Podem mascarar amplamente um resultado final. A evolução por cima da cladística, ou seja, o subjetivo pelo objetivo, vira uma mistura combustível.

No artigo, quebraram o pau em cima da (1) característica não universal do troglo[bio]morfismo¹, do (2) único caminho evolutivo possível à fauna cavernícola, (3) as falsas novidades evolutivas (por convergência, geralmente) ocasionadas pelas pressões ambientais influenciando no clado.

Data venia, descendência com modificação caiu de moda.

Nada de ad libitum.

Haja latinismos.

¹caracteres dos troglobios (fauna estrita ao ambiente cavernícola), que diferem dos troglóxenos e dos troglófilos.

domingo, 29 de março de 2009

Diferenças Darwin X Wallace (1858)

Enfim, acabei de ler o artigo do Kutschera (2003) e saibam as diferenças entre os artigos do Darwin e do Wallace, publicados pela sociedade lineana em 1858, culminando com o grande livro de 1859 que dispensa apresentações, eis algumas diferenças:


1- Wallace julga os animais domésticos de anormais, e não como modelos naturais padrão. Darwin força o pensamento nas similaridades entre variantes domésticos e naturais na construção da argumentação. (interessante saber que os conceitos de espécie do Darwin são três: variedades, subspécies e espécies verdadeiras).

2 – No artigo por Wallace somente animais (vertebrados, insetos) são citados como lutando pela sobrevivência. Enquanto Darwin cita os animais e as plantas, respectivamente, móveis e sésseis.

3 – Wallace força a competição dos animais em relação ao ambiente (enquanto vivente ou inorgânico) e entre espécies separadas: a luta contra inimigos e predadores é o decisivo processo no artigo dele. Darwin, por outro lado, enfatiza a competição interespecífica: a luta contra uma espécie próxima.

4 – Do grande início da carreira de evolucionista, Wallace (1858) rejeitou o conceito proposto por Lamarck, enquanto Darwin, durante sua vida, aderiu ao princípio da herança das características adquiridas.

5 – Wallace não mencionou o fator tempo (o número de gerações que podem passar) enquanto novas variedades de espécies podem ocorrer como um resultado de uma consistente força de seleção natural. Darwin pontuou a importância dos intervalos de tempo geológico com respeito à origem de novas espécies e se referindo a milhares (ou milhões) de gerações.

6 – Darwin introduziu, em adição aos meios naturais de seleção, o segundo princípio: a luta entre machos e fêmeas (seleção sexual). Wallace não menciona o segundo tipo de seleção, o qual é resultado do sucesso de acasalamento diferencial.


Observações interessantes:


O termo seleção natural foi iniciado por Darwin, e não por Wallace.

Os termos adaptação e população em um senso moderno foram sintetizados por Wallace, e não por Darwin.

Ambos não utilizaram a palavra evolução, embora nos livros seguintes eles se referem à esta palavra como chave em diversas ocasiões. Utilizaram a palavra espécie em ambos os trabalhos.


KUTSCHERA, U. A comparative analysis of the Darwin-Wallace papers and the development of the concept of Natural Selection. Theory Bioscience, 122: 343-359, 2003.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A Formação Social da Mente


Estou lendo atualmente o livro "A formação social da mente" do Vigotsky, embora ele tenha compilado diversas idéias e experimentos de outros autores, fizera um aparato didático para psicologia, imprescindível para sabermos como nós agimos em diferentes faixas etárias, e quais as características-chave para formação do intelecto.

Na introdução ele faz um histórico dos estudos que antecederam a ascensão da psicologia humana no mundo, e o desenvolvimento dela foi comparado ao desenvolvimento da etologia, não diria como está no livro: psicologia animal, pois os humanos se encaixam nela.

Uma das primeiras noções que ele descreve sobre o desenvolvimento cognitivo, está ligado a comparação dos macacos antropóides e das crianças que são privadas do direito da fala. Estas últimas, não têm uma boa noção do que fazem, pois todas as crianças no processo de aprendizagem, têm de ficar perguntando, ou descrevendo o que faz, na hora da ação. Quando são privadas, elas passam a não fazer a ação, com medo de errar, outrora confiando na fala. A gente percebe isso atualmente, existem pessoas que lêem em voz mediana nas bibliotecas, elas ganham maior compreensão dos livros do que as pessoas que lêem silenciosamente (também por serem atrapalhadas pela poluição sonora de cada dia). Após um bom bibliotreinamento, aqueles que lêem silenciosamente progridem para o próximo estágio da leitura, o da compreensão sem a fala.

Outra noção importante está ligada às figuras. As crianças analisam as fixamente as ilustrações do livro, descrevem elas paradas, e não descrevem as ações e a situação contextualizada da figura, elas não têm o poder de analisar as ações, somente descrever os pontos fixos. Uma ilustração com dois rapazes jogando bola, ela descreveria as pessoas, a bola, as traves, mas não descreveria a ação em si, para onde a bola iria, para onde o jogador iria, o que o jogador estaria fazendo, a perna iria sair de onde para onde, o mesmo da bola. Essa outra noção que o Vigotsky nos dá, foi experimentada comparativamente com crianças de diferentes faixas etárias, quando maior a idade, maior a compreensão. Claro, que isto tem um limite, a deterioração cognitiva, vulgo caduquisse.

Continuando no texto, o Vigotsky explicita a importância dos signos no processo de especiação dos humanos, uma das diferenças dos macacos antropóides e dos humanos é a nossa capacidade de interpretar e significar a matéria. A partir dos diversos significados, temos a capacidade de formar nossa cultura.

Leio estes textos, pois na minha formação, são imprescindíveis para ganhar poder persuasivo, embora a psicologia faça parte da grande área "ciências biológicas". Não é o mesmo tesão de ler sobre Vigotsky obrigado, durante uma das disciplinas da licenciatura, fiz a leitura de uma das apostilas sobre as idéias dele, mas não foi a mesma grata compreensão. Espero que a disciplina Psicologia da Aprendizagem, melhore este ano, pois o Vigotsky sempre colocou a biologia comparativa em primeiro plano, a evolução ontogenética também é explorada nos textos.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Dica: I Seminário Internacional Sobre Exclusão, Inclusão e Diversidade

Acontecerá em João pessoa, dos dias 24 a 27 de março o I Seminário Internacional Sobre Exclusão, Inclusão e Diversidade.




O evento objetiva promover o espaço de integração entre todos os pesquisadores da temática e os interessados, do meio acadêmico e da sociedade civil, em um campo reflexivo acerca da construção de alternativas de inclusão social e educacional, respeitando–se a diversidade frente à superação da exclusão social, em nosso país.

O evento será dividido em Grupos de trabalho, variando em diversos temas. Os interessados em inscrever trabalhos poderão fazê-lo no formato de poster, resumo ou artigo completo de no máx. 15 páginas.
As inscrições de trabalho serão do dia 20/10/2008 até 28/02 de 2009, para realizar sua inscrição clique aqui.

O evento esta aberto também a qualquer pessoa que não pretende apresentar trabalhos, e a inscrição pode ser feita até mesmo no primeiro dia do evento.

Na minha opinião este evento tem muito a somar. Consiste em mais uma iniciativa da pós graduação da UFPB, agregando um título forte e um caráter internacional.
Não podemos esperar que o evento abarque todo o patamar esperado no quesito público, mas é importante que os pesquisadores circunvizinhos se mobilzem e participem. Desta forma, podemos construir uma comunidade científica ABERTA e não segregada da sociedade.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Pessoas mudam. Mudam?

Primeiro vamos descrever o que é ser alguém. As pessoas são classificadas de acordo com a expressão de sua essência. A essência determinará o ego de cada um. Essência, resumindo, deve-se em total parte aos seus genes, ou a expressão deles. Você nasce para o que é, ou não. A que se dá essa margem paradoxal? Na verdade, você será a expressão dos seus genes. Como um gene geralmente se expressa? Através da resposta à ação do meio. Também é relevante o tempo exposto ao meio. Nasci para ser obeso, não tenho os genes que expressam a proteína leptina ou seus receptores. Serei obeso se, invariavelmente se, em minha dieta houver alimentos gordurosos.

Outro exemplo: Possuo os genes que expressam o vício à ingestão de álcool. Serei alcoólatra se, invariavelmente se, começar a degustar bebidas destiladas. Eufemismo às vezes cai bem. Para não decepcionar antropólogos e sociólogos, considero o social uma parte encaixante do meio. Fator social também é fator do meio. Saindo da ciência, entrarei um pouco na filosofia. Pessoas são a reação e a aprendizagem aos fatores do meio, tal reação definida por sua essência. Geralmente quando digo que uma pessoa mudou, ocorreu uma apatia da minha parte sobre o que eu tinha em mente referente àquela pessoa. Se fulano mudou significa que aquilo que eu esperava dele não será mais correspondido. Vemos as pessoas com olhos egoístas. Não vemos as pessoas como elas são, e sim, como gostaríamos que fossem.

Sem mais circunlóquios, todo esse silogismo foi para definir a palavra central do texto: liberdade. O que a liberdade tem a ver com “pessoas mudam”? As pessoas são a expressão da liberdade que lhes damos. Exemplos são melhores de se ter um bom entendimento. Namoro uma menina que cujo pai é sério, intransigente, lacônico e não gosta de brincadeiras. Digamos que sou extrovertido, palreador, dinâmico e prolixo. Havendo um respeito em jogo, nas supostas ocasiões em que eu estiver presente do meu sogro, agirei de forma diferente à minha essência. Serei também sério e lacônico. Caso haja outro evento, no qual ele me viu vociferando “heresias” ou palavrões, qual será sua primeira reação? Ele dirá: Pessoas mudam. Mudei? Na verdade, eu sempre fui o mesmo, o que não havia era a liberdade da expressão das minhas características em ambientes onde meu sogro estivera presente. Aos olhos dele, eu era uma pessoa boa, e era alguém em que se podia confiar (por ser parecido com ele). Após a demonstração real do meu ego, virei uma pessoa má, uma cobra, um vilão (por não satisfazer a imagem distorcida que o mesmo tinha de mim). Ao epílogo, uma pessoa é a resposta que seu organismo dá em relação ao meio exposto, cientificamente falando, filosoficamente falando também. O que muda são os olhos de quem ver. Quem mais fala que os outros mudam ou mudaram, são aqueles que nunca deram a real liberdade aos outros para que expusessem o que significantemente eram.

A liberdade é aquela em que ambos os indivíduos demonstram suas características, sem que ambos critiquem e/ou não aceitem ser criticados. Se me chamam de gordo e feio, primeiramente, quem me chamou deve me dar a liberdade de dizer o que acho dele. Em segunda parte, devo ser um crítico ávido do meu ego para conhecer-me bem e aceitar a opinião do outro, saber até onde ela é real ou imaginária. Pessoas não mudam, no máximo passam por fases onde o meio expressará diferentes características do indivíduo. Apenas fases. Essência é imutável, a real essência. O que se muda realmente, são opiniões de quem nunca deu liberdade o suficiente para conhecer essencialmente o outro.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Avaliação dos Livros Didáticos de Biologia - 2008

Os livros da disciplina Biologia que fazem parte do PNLDEM 2008 foram criticados por 26 professores universitários, onde as críticas renderam tanto, que os produtos foram divididos em três artigos. Um sobre Genética e Biologia Celular, outro sobre Ecologia e Fisiologia, e o mais interessante, sobre Evolução e Diversidade Biológica. Parabéns para a equipe de especialistas por produzir um material tão útil aos professores de Biologia do Brasil. Embora, os quatro critérios utilizados, pequem por não ter o fator criatividade didática como avaliação, sempre com os mesmos exemplos e diversas explicações diferentes, se multiplicando e se tornando equivocadas, no pé da letra: as chamadas misconceptions extensivamente presentes nos três artigos. A metodologia compreendeu: (1) a adequação e conceitos corretos, e exatidão na informação básica; (2) adequação e coerência metodológica; (3) promoção de uma adequada visão sobre a construção do saber científico; (4) princípios éticos. (El-Hani, Roque & Rocha 2006)

... (5) adequação dos exemplos às pesquisas e geografia brasileira.

Chega de Manchester, Galápagos, Londres, se aqui temos Paraíba, Fernando de Noronha, Rio de Janeiro. Por exemplo, Darwin não esteve só em Galápagos para inferirem, somente, a fauna de lá.

El-Hani, C. N.; Roque, N. & Rocha, P. L. B. (2006). Brazilian High School Biology Textbooks: results from a Brazilian national program. Submitted to IOSTE International Meeting on Critical Analysis of School Science Textbook.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Alegria e Dinheiro

Lendo o Science Daily de hoje, pude perceber uma matéria muito interessante com a temática Alegria. Esta é produto do coletivo, e não do individual, é presente nas redes de amigos segundo cientistas da Universidade da Califórnia, por uma emoção contagiosa, por isso é denominada infecciosa.

Foram feitas observações em 5.000 indivíduos durante 20 anos. E foi também percebido que:

Examination of this dataset shows that having $5,000 extra increased a person's chances of becoming happier by about 2 percent. But that the same data also show, as Fowler notes, that "Someone you don't know and have never met—the friend of a friend of a friend—can have a greater influence than hundreds of bills in your pocket."

Matéria no S.D. em 05/12/08

sábado, 15 de novembro de 2008

Darwin e os registros tupiniquins


Estava lendo um livro, liberado pelo portal DomínioPúblico.gov.br, que todos deveriam passar pelo menos alguns dias do mês visitando, e encontrei por lá o Voyage of the Beagle do próprio Charles, onde descreve toda a viagem feita pelo mundo afora, e um dos destinos, claro, é o Brasil.




Ao chegar no arquipélago de Fernando de Noronha, se espanta com a beleza do local, descreve as formações rochosas, das mais variadas formas, com diversos tipos de vegetais bem como rios presentes no meio da ilha principal. Logo após, chega à Bahia, onde fica em Salvador, leva uma grande tempestade e fica maravilhado pela tropicalidade de nossa terrinha. As cores, as formas vegetais o encantam, a capacidade de absorção e respiração das plantas, o inspirou durante as tardes que passou na Mata Atlântica. Durante a viagem na Bahia, ainda descreve o curioso baiacu, fica encantado com a morfologia do peixe, ao se inflar e os diversos tipos de mecanismos de defesa. Fala sobre as brânquias, a abertura bucal, a fisiologia do peixe ao ser ameaçado. Maravilhosa descrição, com perguntas diversas, que mostram a emoção do Darwin ao descrever os espécimes. Ainda se lembra que havia escutado o Dr. Allan de Forres que tinha encontrado um baiacu no estômago de um tubarão, causando a morte do topo da cadeia alimentar. Ah se eu tivesse essa informação nas aulas de Zoologia dos Vertebrados, estava imaginando a aula bem mais dinâmica com essas passagens.


Saindo da Bahia e indo para o Rio de Janeiro, ao aproximar o Beagle do arquipélago de Abrolhos, nota o mar vermelho causado pelo boom da espécie Trichodesmium erythraeum e descreve a superfície do mar com a super população de organismos que parecem feno picado com as extremidades recortadas, citando também que na passagem do navio o mar vermelho se dividia em duas bandas com cerca de dez metros de extensão, onde o número de indivíduos deveria ser infinito. Então, conclua aqui que nada mais gostoso de ser lido do que essas passagens registradas por um naturalista, melhor do que muitas disciplinas que se utilizam da descrição de cada parte da flor, caule, fruto, e não tem aquele quê de admiração e analogia, fazendo com que o aprendizado seja efetivo, não só o ensino (o repasse vomitado das informações).




O capítulo II compreende a chegada no Rio de Janeiro, aí ele deixa de navegar e caminha continente adentro, mais precisamente, cem milhas de distância da capital, ao norte de Cabo Frio, visitar um amigo inglês, começando a odisséia no dia 4 de abril. Fala nos outros dias, à caminho, dos bosques imóveis, das borboletas brilhantes. Ao chegar a Itacáia, se depara com uma casa de engenho, com as casas dos negros ao redor, citando que pareciam os hotentotes ilustrados do Sudeste da África. Citando os escravos fugidos e refugiados no topo das montanhas de granito, que pareciam as cortinas das janelas das casas brasileiras, e numa destas passagens, uma anciã escrava com medo da repressão se joga do penhasco, sendo descrita por Darwin como mera brutal obstinação, e não uma paixão nobre pela liberdade, ironizando.


Cada trecho me encanta, cada toque social, não só naturalista, Darwin nos surpreende. O quê abolicionista também é explícito, a viagem do Beagle nos deixa boas recordações sobre a natureza quase intocada da Mata Atlântica, e sobre o triste retrato da colonização brasileira com o regime escravista. A também as críticas do Darwin burguês, no Brasil sem regalias, onde relata fome e sede durante a viagem, tendo galinha, arroz e farinha para comer. Um dos trechos mais cômicos.


Fala sobre crescimento populacional e área do Brasil, o modo-de-vida dos negros, os principais alimentos, e as passagens de vergonha que ele teve ao chegar em Sossego.

sábado, 1 de novembro de 2008

Biografia Naturalmente Seletiva

Disseram que o Darwin era pastor, gigolô, autodidata, nazista, esquizofrênico, macaco (sic), mulher do Wallace. Muitos sensos-comuns dispersos como poeira ao vento, embora um dia tendam a abaixar devido a ação da gravidade, digo isso porque até respirar neste meio espalha mais os sensos-comuns, tão danosos à sociedade, que alienadamente memetizam essas estórias.

Falta respeito à vida de Darwin, e todo legado epistemológico que ele deixou após revolucionar a estrutura fixista formada por diversos agentes clericais embasados no livro traduzido em diversos idiomas. Bem antes do fixismo Finalista, tínhamos concepções naturalistas bem mais interessantes como o Animismo, onde os elementos da natureza tinham seus respectivos deuses, e o Vitalismo, onde todos os seres que eram realmente vivos apresentavam uma força vital, uma energia, sendo esta escola descoberta antes do advento da Medicina, que acabou com essa estória da Força Vital, o Finalismo foi a última concepção naturalista que existiu, onde todas as espécies eram imutáveis, baseada também no sistema de organização biológica lineana, nada de colocar o tal do Hennig em jogo ainda nesta época, claro que também temos de "cronologicar" nossa argumentação. Com a revolução epistemológica de Darwin, houve o impacto e, consequentemente, fizeram a cruz dele.

Acusaram-no de criar o Darwinismo Social, altamente defendido por Spencer, alguns anos após a Seleção Natural entrar em foco na ciência internacional. Acusaram Darwin da mesma forma, com essa idéia de Darwinismo Social, de Nazista. Enfim, na época de caixeiro viajante, Darwin passou pelo Brasil, e como escrevia cartas para diversos amigos que ele cativou pelo mundo, (vide o site darwin-online) em uma delas expôs ante o sistema escravista que ainda imperava:

Tentando fazer-me entender, comecei a falar alto, a gesticular e, ao fazer isto, passei a mão perto de seu rosto. Ele, suponho, pensou que eu estivesse com raiva e ia bater nele, pois, imediatamente, com um olhar amedrontado e os olhos semicerrados, baixou os braços. Nunca esquecerei o meu sentimento de surpresa, desagrado e vergonha, ao ver um homem grande e forte com medo até mesmo de desviar-se de um golpe dirigido, como pensou ele, para seu rosto. Esse homem havia sido treinado para suportar uma degradação mais abjeta do que a escravidão de um animal mais indefeso.


Darwin nos surpreende e, neste trecho, expõe bem sua revolta ao que acontecia com o fator social no mundo, nada de bichinhos, plantinhas, fungos, bactérias ou protozoários sem levar em conta o fator antrópico!

Darwin tinha embasamento naturalista forte! Ao contrário, do que muitos pensam, que o Pastor da Igreja Anglicana, o Rev. Robert Charles Darwin não tinha embasamentos teóricos sobre Biologia, ele tinha uma excelente formação em áreas da Biologia, e segundo minha amiga Silvana.

Até hoje, existe uma publicação no início do termo letivo com todas as palestras e seminários que serão ministrados em todos os departamentos e centros de pesquisa. Qualquer um (aluno ou não) pode assistir a essas "lectures". Darwin tinha dois grandes professores que eram seus tutores. Um de Geologia e outro de Botânica. Além de ter treinamento excelente na zoologia. De tal maneira que Darwin era, sem dúvida alguma, um naturalista. Nada comparável ao nosso amigo formado em Letras e que só escreve sobre aquilo que não sabe.


Nem ao menos conhece o trabalho de Gould contra a microevolução, devido aos embates de época, e também contextualizar os trechos de Eldredge, esses dois serão os temas dos próximos posts. Fico somente com Darwin por hoje.

Respeito àquele que revolucionou a Biologia! Epistemologicamente correto, Darwin nos surpreende até hoje, com essas cartas cobertas pela poeira que citei lá no início deste texto. Pitis, faniquitos e muita, mas muita falta de respeito, são ditas por aqueles que ainda estão parados no calabouço conceitual fixista. Sendo crucificadamente vítima de diversas manifestações infundadas, onde nós percebemos a ausência da figura de Wallace, outra figura importantíssima para a revolução epistemológica, onde levantou o poder argumentativo do que seria um dia a Seleção Natural.


terça-feira, 28 de outubro de 2008

Evolução Ontogenética

A Evolução Ontogenética, compreende o atual Devo, do Evo-Devo, a Biologia do Desenvolvimento. Uma das formas de evolução, onde compreende o nascer, envelhecer e morrer, a ontogenética. Outro tipo de evolução está ligada a separação de grupos com caracteres em comum, a Filogenia. Um dos que falaram que a Ontogenia recapitula a Filogenia, foi Haeckel, e abriu um grande passo para a inserção da Filogenia na Ciência.

"- Cadê a evolução acontecendo agora?"

Esse é um dos sensos-comuns utilizados por aqueles que adoram argumentos 'ad hominem'. Podemos ver a evolução ocorrendo agora, a partir do que chamamos de Ontogenia.

Nasce, cresce, reproduz e morre.

Poucos sabem disso, e poucos querem ver a evolução in loco?

Um exemplo de cladogênese, divisão de grupos de 'bichos/plantas', está ligado aos indivíduos que têm ciclo de vida pequeno, "poucos anos de vida". Através das diversas reproduções e parentescos de quadragésimo grau, podemos perceber a variabilidade, e até mesmo a especiação como ocorrem em drosófilas. Então, o que é o ciclo de vida senão a Ontogenia? O que são diversos ciclos de vida senão a variabilidade? O que seria a Filogenia senão a causalidade de diversas reproduções onde ocorrem a variabilidade?

"Post especial ao meu amigo Uirá, feliz evolução ontogenética."