O ritmo que embalava as discotecas. Calça boca de sino, com uma sapatilha branca e aquele capilar blackpower. Conversando sobre justiça global, governança global, planejamento estratégico, corporações transnacionais, organizações internacionais, barreiras comerciais e importação. Lá estava o meu ego eloquente no final de um dia pós-namoro (day, not date)*.
Como bom amante, profissional, o "fura-olho da Estrela", estava lá. Após a festa na discoteca a encontrar uma amiga, esta tinha deixado apresentações orais no litoral e também curtido a discoteca. Estava a pegar o ônibus para o interior do Estado. Aí começa no walk-man, aquela música "Um amor de verão" da banda Rádio Taxi. Embalando o reencontro, aquela música pedida... era a cadeira ao lado. "- Por favor, esta dama poderia sentar ao meu lado?". Logo minha parceria aleatória de viagem trocaria de lugar com a apaixonante fala singelamente sonora, a amiga que encontrei na rodoviária, viria no mesmo ônibus, fato inimaginável. Aquele papo agradável, anos 80. Se lembra da Ecologia Política? Aquela do Estéban Castro na época que ele foi à FURNE. Ela, "- Sim, claro que lembro, foi o início de nossa amizade, se lembra?". Sorrisos.
Ninguém me explicou na escola, ninguém vai me responder.
Seguimos cantando, e conversando. Logo, conversarmos sobre Sartre, e ela glorificando a Simone de Beauvoir. Descubro que tenho uma admiradora do casal ao meu lado. Dois objetivos iguais, ler o livro "O ser e o nada", nosso sonho de consumo. Depois de diversos livros, diversas harmonias verbais, chegamos na metade do caminho, falando sobre justiça global.
Ela cita que a festa foi boa, e ela estava cansada, com aquele vestidinho de bolinha amarelinha tão pequenininho. Pego sua mão, ela logo se desfaz. Conversamos muito, conversamos sobre tudo. Sobre dissertações, a da minha ex (amiga dela) e a dela principalmente, em agosto de 1988 ela defenderá a cruz que carrega. Logo pergunto sobre o evento do Parque Evaldo Cruz, ela desconversa, que estava cansada da discoteca e não iria mais àquele ambiente. Descubro que ela tem um amigo que marcou com ela neste intervalo de dia para noite.
Chegamos ao terço final do percurso, "- Está frio aqui, né?". "- Sim, está.", ela responde.
"- Vem cá."
Logo nos abraçamos, e o giradouro da entrada da metrópole Campina Grande, aparece. Épocas de comércio intenso de café, o ônibus não ajuda muito, aquele cheiro enorme de cigarro. Chove. Ouvimos o barulho do trem, longe, longe.
Ela não colabora e diz. "- Me desculpe, mas não se ofenda com o que eu vou dizer."
Olho fixo para os olhos dela. "- Pode dizer."
"- Tudo o que faço, é intensamente, por isso não vou dar só um beijinho em você, não rola."
"- Você é amável, encantador, com uma conversa agradável, mas não dá."
Logo ainda dá tempo de conversamos sobre formas de amor, o que nós temos em comum.
Ela. "- Gosto de quem puxa meus cabelos." "- Gosto de bater e arranhar." "- Tudo tem de ser intenso."
Chegamos na rodoviária. Logo avisto minha vizinha, perguntando se eu não continuaria no ônibus, pois o ônibus passaria próximo de minha casa. Minha companheira de longa data não podia ir sozinha para casa. Da rodoviária ganho outro rumo, não minha casa, mas a casa dela. Levo sua máquina de datilografar portátil, que foi importante para sua apresentação oral no litoral. Ela ainda exausta por ter ido à discoteca, me diz. "- Se você me levar até em casa, te deixo em casa logo mais, de carro." Não poderia resistir a proposta mais tentadora em pleno dia 12/06. Fluindo prazeres, suspirando desejos. Vamos conversando sobre MDLs, energia limpa, empresas. Ela muda meus conceitos sobre microempresas. Logo, desmarca o encontro que teria com um "amigo" (estava claro que era seu paquerinha antigo) no Parque Evaldo Cruz, pelo seu cansaço, e não por minha presença. Seguimos até Bodocongó. Chego na casa dela, recebo outro amigo conhecido de longa data, que se surpreende com minha presença. Jantamos. Com muito sono, muitas histórias e uma consulta de tarô.
A morte. Carta boa.
Voltamos, ela segue comigo, só eu e ela. De volta para casa. Vamos conversando sobre tudo, essa companhia agradável estava faltando. Passamos a noite conversando, conversamos muito, aleatórias e diversas situações. Continuamos a conversar...
Chegamos na porta de minha casa, ela se despede.
Beijo sua boca, e puxo o rosto dela violentamente e digo: "- Não pense demais, aja".
Logo sou retribuído com o calor feminino em demasia. Passamos mais dez minutos em um ritmo frenético de troca de fluidos. Começa a música "Só delírio" da banda Telex.
Me despeço. Aquele gosto fica.
Entre quatro paredes, Sartre. Dedicado à ela. Depois de dois livros, um litro de vinho e uma cesta de chocolate lançados ao mar, que seriam destinados a uma querida paquerinha antiga em João Pessoa. Um bolo de uma, um presente de outra. Dedico um presente lido, dei a ela: "Onde o inferno são os outros."
Ela? Ainda deve estar terminando a dissertação. Simone de Beauvoir? Não sei, segundo ela, um dia descobrirei. Reitera, na França, talvez.
* os fatos aconteceram a noite
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