sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

São João do Tigre – 1º dia

13 de janeiro de 2009 – terça-feira

Emerson, Allysson e Rienzy na rodoviária nova, todos reunidos por volta de 15:45. O primeiro a chegar é Emerson, depois Allysson, e por último Rienzy. Início de lua Minguante e nós em direção a ela. Retiro a barraca das costas que estava presa à mochila coloco em uma das mãos, equilibrando e distribuindo o peso com o barril de 20 litros que estava na outra (claro que preenchido por água menos que a metade). Nosso ônibus saiu às 16:00 rumo a São Sebastião do Umbuzeiro (cidade mais longe que podíamos chegar através de um ônibus de viajem). Ao todo foram cinco horas dentro deste ônibus, descendo dele então umas 21:00. Quando chegamos a São Sebastião do Umbuzeiro, lá se festejava o dia do padroeiro da cidade. Assim, havia muito movimento na cidade ainda. Decidimos não parar lá. Pedimos algumas informações a alguns moradores como: qual estrada nos levaria a São João do Tigre, distância e se havia perigo irmos à noite. Seguimos caminhando então pela estrada que nos levaria a nossa cidade final. Os temas versavam sobre religião, e logo eram as primeiras noções de discurso do nosso recém-amigo de viagem, o Rienzy. Emerson já conhecia de longa data. Conversa vai, conversa vem, paradas também, e nos primeiros metros uma picape saveiro sem nenhuma carga, nada de carona. Algumas curvas a frente, parados debatendo assuntos devido ao peso extraordinário que carregávamos, ia chegando José, como ele próprio se identificou, um morador da região que caminhava sozinho pela estrada. Logo, um caloroso boa noite é verbalizado, quebrando assim o gelo, a barreira social, e nos aproximamos dele, perguntamos para qual sentido ia, e onde ele morava. Após as respostas escutamos a primeira demonstração de hospitalidade “ – Vocês querem um pouco d’água que tenho aqui?”. Imagine só, uma pessoa que quase nos passava imperceptivelmente, onde pensávamos que vinha do além para conversar conosco, e ainda nos oferecer água. Após isto, José nos deixa e continua a caminhada. Colocamos as mochilas nas costas e passaram algumas Toyota Bandeirantes 4X4 modificadas (comuns na região) para São João do Tigre, mas sem sucesso quanto a carona. Deveria concluir que por medo de três indivíduos com semblantes de forasteiros andando por aquelas bandas, só poderiam ser ladrões. Não obstante, continuamos a andar com destino à São João do Tigre, com a coluna “gritando”, até que por volta dos quatro primeiros quilômetros pós saída de Umbuzeiro, pára um caminhão sem carregamento. Falamos que íamos para o Tigre, e o motorista nos mandou subir. A melhor parte foi quando contamos 45 minutos de viagem de carona até São João do Tigre, em uma velocidade digna de Rally sem distinção entre buracos pequenos ou grandes, o caminhão cortava a estrada noite afora. Antes chegaríamos de madrugada, agora chegamos às 23 horas na praça principal. O detalhe de nossa carona foi um caminhão todo remendado, cheio de buracos visíveis, e se minha mochila não fosse grande o suficiente para não adentrar em um dos diversos buracos que cabiam minha perna, teríamos certeza que ela cairia na metade do caminho, quebrando alguns objetos importantes de nossa viagem. As madeiras que compunham o caminhão rangiam intensamente com risco de quebra e as correntes completavam a poluição sonora. Tantos e tantos buracos de diversos tamanhos e formas pelo caminho levou o motorista a parar o caminhão que estava nas últimas, o suspense tomou conta deste momento. Pois no início, antes de subirmos no caminhão ele perguntou: “- O grupo são só vocês?” O motorista e o acompanhante descem, o motorista sem a camiseta e o companheiro com uma cara de poucos amigos. Logo, nos veio a sensação de medo quando eles disseram em outro idioma que significava algo relacionado às rodas do caminhão, e aí aumentou o suspense, pois não sabia o significado daquela palavra, muito menos a razão deles se aproximarem de nós. Após olhar o problema, pegaram o martelo, oferecemos ajuda, e nos aquietamos mais. Ele apertou alguma espécie de parafuso e seguimos viagem por 10, 20, 30 minutos e nada de chegar à São João do Tigre, até quando entramos em uma rua do município, que estava no horário deserta. Quando fui agradecer a carona, com no mínimo um obrigado, vejo uma tatuagem totalmente desbotada no braço, em tons de azul, onde era expresso o topless de uma mulher. Depois fui saber que aquelas tatuagens não eram feitas em presídios ou algo do gênero, e sim em reuniões de amigos que tiram motores de rádio tipo toca-fitas e afiam o eixo central de forma a ficar pontiagudo como uma agulha, feito índios modernos, algo que me impactou. Bem-humorado, solta uma piadinha. “- Olha aí, não disse que era longe?” Descemos do caminhão e caminhamos para a praça, nos deparando com um grupo de jovens tocando violão. Desta forma, saímos de cena (com aquelas mochilas enormes chamando atenção) e sentamos próximo à Igreja, embora na mesma praça. Rienzy vai ao telefone e fica alguns minutos, e fico conversando com Emerson. Detonamos o primeiro lanche da viagem, um panetone, por conta do peso. Esperamos o tempo passar, deitamos na praça e ficamos lá, onde diversos transeuntes curiosos com nossa presença não nos tiravam os olhos. Enfim, “dormimos” na praça. Preferimos não armar nossas barracas para não chamar ainda mais atenção e para não perdermos tempo reorganizando tudo na manhã seguinte. Dessa forma, tínhamos apenas o chão gelado como nossa cama e nossas mochilas como travesseiro. Havia um caminhão com redes penduradas por perto, embora com pessoas dormindo em um local mais reservado. O frio começa e com ele os sustos, o principal foi de um cachorro das imediações que ao fuçar o lixo de uma casa nos acorda com um estrondoso som de alumínio batido. A insônia aperta, nada de Sol raiar, os minutos são contados por Emerson, e começo a roncar, com cochilos leves, até acordarmos pela manhã, todos entrevados, com aquele ar de pessoas estranhas, que no mínimo iriam roubar a cidade.

3 comentários:

O juízo tou deixou em campina?

Caramba bixo...

e a emoção de andar na noite afora? tava sem uma luz na estrada, eim?
realmente.. deixaste o juízo em CG...

:)
Já passei por coisas parecidas, mas uma que você me fez lembrar foi que um amigo me contou, estavam indo para um jogo em outro estado, pelo que lembro era Paraíba mesmo! Chegando no meio do caminho o ônibus que era dirigido por um motorista aqui da cidade que só tem um braço quebrou, como não tinha lugar pra comer o pessoal se dividiu e foram pedir comida nas casa por perto, sairam tudo com o bucho cheio ahuaha
O pessoal se tiver ajuda sempre, eis o lado bom!

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