segunda-feira, 27 de abril de 2009

Cinco da manhã

A janela semi-aberta, vítrea clorofilada, computador ao som de "born to be wild". Alguns dípteros acasalando, a cortina em cores parecidas esconde a outra metade da porta do castelo para as formigas. Observo um casal de víboras, a minha amiga antiga, que perdeu uma das patas dianteiras em uma de minhas investidas na porta (uma verdadeira guilhotina), e a outra uma intrusa, que logo fica imobilizada ao ser percebida por minha amiga víbora. Paro para perceber aquela situação caótica, diversos grunhidos à música que se repete duas, três vezes, desligo a caixa de som, permaneço como investigador do mundo animal. Não tenho um modelo de etograma, mas mentalmente está tudo registrado. Sigo olhando as duas víboras, logo percebo que não era território e sim acasalamento, e lá se vai para um lado, para o outro, e mais grunhidos, a minha querida amiga(o) - ainda não sei o gênero -, conquista a parceria e ganha o rumo dos bastidores, lá se foram as duas para a escuridão atrás da cortina.

Ligo o som.

Continuo a vida.

O verde da parede chama a atenção, descanso a vista. Dor de cabeça aumenta. Pássaros ganham vida, o Sol nasce, daqui a pouco começa a missa na televisão.

Hora de dormir, sonhar, por alguns minutos, em qual destino aquelas víboras ganharão, outros nem tanto.

domingo, 26 de abril de 2009

Oscilação sonora abrupta

Escrita sem sentido,
O escuro me dita palavras
E eu em ruínas escrevo
A noite que me afaga

A perda é o que resta
Após tudo se ter perdido,
Então à perda me apego
E liberto minha vida num grito.

- El-hani, C. N. Salvador. Novembro de 1991.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Auto-Imune

Hoje, há pouco (por volta das 18 horas) na UFCG estava eu caminhando em busca da xérox mais barata, isso logo após ter deixado a reunião da comissão eleitoral do CCBS, e ganhar uma carona do presidente da comissão. Exausto, sigo, e encontro amigos. Um deles travestido de pastor, ou empresário, não sei direito o que era, mas logo chego me divertindo com aquela situação (de proletário para burguês). Outro, o que vou enredar essa narrativa, seguia seu caminho, e logo parou ao me ver. Escuto um "- Opa!" caloroso, e a velha pergunta "- Como está o CABio?". Logo reconheço a ausência deste no rotineiro dia-dia do curso (que parece ensino médio). "- Por que não tens ido mais assistir aula?" Claro, sem responder antes a pergunta do CABio. E ele me disse que problemas de saúde afastaram-o. Dores nos ossos, que impossibilitariam a permanência deste no curso. Me convida para beber um suco, digo que estou com azia e não vou. Culpa do café, misturado com suco de manga e Coca-Cola.

Sigo conversando com o ser travestido de pastor/empresário, grande amigo antigo de movimento estudantil, que só andava de camiseta de congresso, sempre colocando a culpa na: "- Conjuntura, analisei minha conjuntura e vi que não estava dando certo, mudei". Conversa boa, tchau.

Sigo para a xérox, o ex-graduando de Bio agora lanchando. Passo, desapercebido.

Cópias de três capítulos de genética feitas. Missão cumprida na UFCG.

Me direciono ao ponto de ônibus, dentro deste intervalo de tempo e espaço, converso com outros diversos amigos.

Chego no ponto, e logo o vejo com outro amigo, agora de eng. de produção. Amigo de fumo, que está terminando o curso, onde eu deveria estar terminando também as últimas disciplinas neste semestre. E o mais interessante, saber qu'ele toca um projeto de extensão na área de tecnologia, após a aprovação há pouco na seleção do PROBEX (Bolsa de Extensão) na área de Gestão Ambiental. Feliz estou.

Entramos no 333, o amigo de produção senta do meu lado, esse outro meu amigo que deixou a Bio senta logo atrás. Este último permanece calado. O outro vai conversando sobre a turma qu'eu fazia parte, quem está se formando, e já sabendo quem está, só faço confirmar minhas expectativas. Feliz permaneço.

Desço do ônibus na Integração, me despeço da potência produtiva, e logo o que permanecia calado se levanta na minha frente, e segue, indago "- Nesta metade do ano, eleições para o CABio, queres coordenar pro lá?". Ele responde "- Não quero mais saber de política, depois que a Correnteza perdeu duas vezes na UFCG!". Aquele sorriso sarcástico dos dois impera.

Puxo conversa, enfatizando o porquê dele ter deixado a Biologia. Ele me explica:

"- Estou com problemas nos ossos, na lombar, nos braços, nas pernas, na coluna. Depois de uma trilha, não posso mais fazê-la, devido a estes problemas."

O silêncio impera, eu embora curioso, permaneço em calado, nada pior do que perguntar a doença de outrem diretamente à ele.

Alguns minutos se passam.

"- Doença imuno-deficiente" ele diz. E completa "- Mas, você gosta de biologia, né?". E eu sem entender porque ele completa com essa pergunta, cansaço, respondo com um "- Sim".

Logo, ele aperta minha mão e sai de perto. Ganha seu rumo, fico observando-o. Ele foi para seu ponto. Depois de alguns minutos, longe de mim ele passa, se afastando, não pegando mais o ônibus, ganhando o rumo do Açude Novo.

Descanso, quase dormindo e flashback.

"- Doença imuno-deficiente"?

?

Porra, caiu a ficha.

Pego o ônibus, refletindo.

Chego em casa, refletindo.

Triste permaneço, debaixo do chuveiro passo alguns minutos.

Ele deve ter ido se esconder, assim como todos os outros que são discriminados por tal doença. Descoberta pesada essa minha, não sei qual seria minha reação, se a "doença imuno-deficiente" fosse diretamente dita.

"AIDS"

domingo, 5 de abril de 2009

Êxtase

Colado ante sua,
Boca entreberta
Toda nua,
Logo desperta

Epitélios simulando
o prazer exalando
O atrito aumentando
Devaneios caindo, andando,

Pulando, correndo, saindo, existindo!

Beijos ao léu
Cheiro de feromônios.
Lábios molhados, gosto de mel
Por todos os lados, hormônios!

Ônus das palavras,
Jogo a bandeira.
Culpa de sua lavra
A paixão beira.

Erra, enterra, guerra, berra

Confusões
Meu lábio grudado,
Diversas visões
Olfato aguçado

Paladar melado
Audição ulterior
Smack acentuado
Tato? Conquistador.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Didática Esquizofrênica


Às 7 da manhã!

Grito aos quatro cantos da sala: " - Didática!". Mas, ninguém me ouve. Sou vaiado mentalmente, entro em transe, fico invisível ante os outros companheiros hipnotizados pela aula, ou sem o mínimo de atenção nela. Passo por trás do data-show, desapercebido abro a porta, saio sem bater. Sento no banco ao lado da porta, penso. Logo, caminho até a lanchonete.

Tomo café, converso, após 30 minutos, vou à sala, com maior vontade, maior vontade de atenção, embora com senso-crítico mais apurado. Abro a porta, clima de sono, penumbra. Escuto os tics do professor, "-né?" "-né?" "-né?".

Um coração de mamífero, aula de anfíbio. Dipnoi representando salamandra.

Chega! Não dá mais. Se já não bastasse ler os slides mal, errando a leitura, mente deslavadamente?

Escrevo, critico, critico, critico, mas nada. Convenhamos, aula estritamente feita para presenças.

Época de provas, quatro capítulos após oito meses de peixe. Estudar?

Pesquisar e Extensionar.

Resultado, todos abaixo da média. Santa masturbação intelectual.

Preocupado, o professor para a aula após escutar um barulho lá atrás: "- Olha quem quiser sair, pode sair, agora não queiram conversar na aula não"; "- Não dá, não dá, passo 12 horas fazendo uma apresentação de power point para vocês ficarem conversando?".

Agora o cúmulo, para finalizar:

Incorporating Ontogeny into the Matrix: A Phylogenetic Evaluation of Developmental Evidence for the Origin of Modern Amphibians. Anderson, J. S.

Diversos nomes estranhos de grupos com caracteres desconhecidos, traduzimos, e qual destino a tradução ganha? Gaveta. Provas? Gaveta. Zoologia? Gaveta.

Sem tesão, deixo aqui minhas condolências à disciplina.

"- Né?"