quarta-feira, 20 de maio de 2009

Nostalgia Extensa

Arrepios marcam a última pergunta, afinal o que Darwin pensava sobre a mudança das espécies ao longo do tempo? Ou não pensava? Acreditava na pangênese e nos caracteres adquiridos? Se justificou nas leis de Mendel para argumentar o processo gradativo? E lá estavam os finalistas.

Antes disso, em agosto do ano passado, estávamos nós começando o Projeto de Extensão "Exposições Científicas na Escola: Evolução Biológica, para que te quero?", logo após ser aprovado pelo edital do PROBEX 2008/2009.

No início, eu e Uirá, estávamos querendo formular algo que contemplasse as escolas de Campina Grande, passar de colégio em colégio, dando palestras, falando sobre a importância do bicentenário de Charles Darwin, dos 150 anos da publicação da "Origem" e o principal. Acabar com toda a raça de criacionistas que nos rodeavam, criando eventos dentro do município. Diversos os reacionários clericais. Cada um com uma opinião diferente.

A minha paixão em particular começou no ensino médio, antes do vestibular, estava eu folheando os livros de ensino médio, livros de ensino superior, para saber a origem das coisas, nada de "the story of stuff" traduzido para o idioma nativo, tudo de biótico com o quê evolutivo (histórico). André, Gefferson, amigos que cursavam física na Estadual e, atualmente, cursam elétrica e física na Federal, influenciaram minhas tardes e noites de debates. Seja sobre origem do universo, da vida e da biodiversidade, com um diferencial, eles criacionistas, eu "evo", antes "cria" também. Era uma jogada religiosa, não entendíamos nada.

Nesta época estava eu na animação de Crisma da principal Igreja do bairro, e nada mais confortável do que ser criacionista dentro da Igreja. No próprio criacionismo, assim como há nas Igrejas, há a segregação de ideologias, afinal Deus criou o mundo a partir do Big Bang, da vida, de Adão e Eva? Isso há milhares de anos, há 10.000 anos, ou simplesmente ontem? E se ele criou o mundo ontem, e colocou todo conhecimento histórico em nossa mente?

Essas perguntas absurdas faziam parte de minha exegese diária.

Ganhei adeptos, e sempre mantive fé nos fósseis, eu diria outrora que Deus criou o Big Bang, essas coisas estapafúrdias, quando não sabemos, fica mais fácil: "- foi Deus". Existem os estágios mais radicais do criacionismo, por exemplo, pensar que a Terra tem menos de 10.000 anos, e como vocês podem perceber estava eu no estágio básico de pensamento criacionista. Sempre tive argumentos da origem da vida "para frente", embora as hipóteses de origem da vida tenham saído bem depois do advento da origem da biodiversidade (espécies). Eu não tinha muito contato com a física, com a origem do universo e derivados. Por isso, passei um ano de minha vida estudando Física das Partículas, múons, taus, gluons, leptons, barions, e diversos nomes e fórmulas difíceis. Perdia muito tempo e energia a pesquisar artigos da Nasa, isso antes de entrar na Universidade, estava eu na biblioteca lendo aqueles livros complicados e em inglês técnico, os quais nunca tive contato durante toda minha vida. Ler um livro em inglês era algo extremamente gratificante, embora se tentasse, eu não conseguia compreender nada. Até o mais básico como integrais e derivadas, eu tentava, mas nada saia. Os artigos da Nasa e da PNAS (que eram gratuitos) eu utilizava para embasar meus embates na comunidade Evolucionismo vs Criacionismo no Orkut, figuras como Sílvia Gobbo, o David, o Rodrigo Plei, o Francisco "Quiumento", Átila, Ravick, dentre outros influenciaram decisivamente minha carreira evo-acadêmica.

Entrei na Universidade, larguei de estudar o criacionismo por levar dois cursos superiores, o mesmo fez André e Gefferson, embora no ramo da docência e dos concursos, e assim ganharam o mundo, se distanciando de mim. Não conversávamos mais sobre Evolucionismo, com esse sufixo "ismo" deplorável, e assim descobri que poderia ter como escopo de estudo a Evolução Biológica. Épocas difíceis para se encontrar um orientador nesta linha. Logo deixei um dos cursos, e continuei em Biologia, entrando no Diretório Central dos Estudantes e nas pesquisas. O Movimento Estudantil continua aceso até hoje em minha argumentação existencial, embora tenha deixado algumas vertentes dele como o movimento allanista, que teve como "Deus" da liberação dos hormônios e interação das faunas, eu. Essa corrente filosófica morreu em mim, mas ainda fiz muitos adeptos por aí. Voltando a vida acadêmica, pude perceber o papel da Extensão como fonte de intervenção na sociedade e descobri o mais descriminado dos três pilares.

No edital 2007/2008 PROBEX, procurei orientação para começar um projeto de extensão, mas sem êxito. Entrei no ramo da educação, por lecionar no cursinho Pré-vestibular Solidário da UFCG, o qual por pouco fui expulso ao publicar um artigo contra o sistema, e quase também saio por espontânea vontade, por não compartilhar os mesmos interesses. Na educação me aproximei ao Uirá, ao Thiago e ao Ribamar, à equipe do Holística Diária, de um modo geral. E pude valorizar as práticas de ensino-aprendizagem. Como gostava de evolução (biológica), nada melhor de unir o útil ao agradável, e encontrei o Uirá nesse meio termo, sempre debatendo, se unindo à minha bandeira evolutiva desde o primeiro ano do curso, e assim passou o segundo, e chegamos ao terceiro ano com perspectivas de sucesso quanto à inserção da Extensão nas Escolas Estaduais de Campina Grande.

No projeto tínhamos um número absurdo de escolas para visitar. Umas 12 escolas, uma para cada mês, calculamos assim, e assim foi até conversamos durante o semestre de Julho com a Silvana Santos, recém contratada pela Universidade. Logo, durante o período da "Síndrome do Lattes" correndo em meu sistema circulatório, pude analisar o currículo de cada professor contratado, e chegando no nome da Silvana percebi o nome do Nélio Bizzo como orientador do MsC e do Doc, o sobrenome referência em ensino de biologia evolutiva e que foi citado em nosso pré-projeto algumas vezes, e lá se foram alguns Bizzo, Bizzo, Bizzo, Bizzo. Em outros materiais de referência no Brasil, mais Bizzo, Bizzo, Bizzo. E não poderíamos perder a oportunidade da Silvana nos orientar.

Desde essa época mantemos contato constante com a Silvana, seja por telefone, por e-mail e, frequentemente, pelos corredores do CCBS. O primeiro contato foi em frente ao banquinho da sala 5 da Biologia, e estava ela concentrada nos trabalhos em Serrinha dos Pintos e nos mostrando o primeiro interesse dela na UEPB, e no nordeste de modo geral: Genética. Como professora de Prática Pedagógica, não podia faltar uma atividade no ramo da Educação desde que ela entrou em adiante. Tanto que fomos bem recebidos por ela, e bem avaliados, até mudar totalmente o projeto e as passadas (aulas) de escola em escola durante 12 meses.

Em menos de uma semana, estávamos com o Projeto concluído, agora com um quê de divulgação científica maior, com maior segurança também. O trabalho foi dividido em cinco etapas. A primeira com os alunos da disciplina prática pedagógica, o segundo momento concluido com a Secretaria de Educação aprovando a inserção do Projeto na rede estadual, a terceira etapa com o curso de atualização que ocorreu no auditório da UEPB bem próximo ao festejo do bicentenário de aniversário do Charles Darwin. A quarta etapa contou com a construção dos painéis nas escolas da rede estadual. Sendo a quinta e última, o tão almejado Dia D da evolução.

Suado Projeto de Extensão. Quantos ofícios, memos, "bolos", almoços perdidos, lanches na praça de alimentação, reuniões ordinárias na sala dos Feras sempre registradas em Ata. Um Projeto organizado, tanto que cronologicamente bem assessorado pelo blog e pelas diversas Atas será fácil construir o Relatório Final. Este ultimo o produto mais "seco" da Extensão, que contou com Cordéis diversos, Paródias, Túnel, Forró, Teatro de Bonecos, artigo na revista Genética na Escola, diversas entradas na imprensa falada e escrita nacional. Em espaços nunca d'antes navegados por qualquer um professor do Departamento de Biologia historicamente, isso cito embasado em relatórios diversos expedidos pela PROEAC.

- 2008
Julho - Fechamento do Projeto para submissão na PROBEX 2008/2009;
9 de Outubro - Seleção dos extensionistas para entrada no Projeto de Extensão;
13 de Outubro - Aprovação do Projeto pela PROEAC;
14 de Novembro - Exposição do Cortinão de Watson (UFPB) na UEPB;
19 a 21 de Novembro - Montagem dos Paineis pelos estudantes de Prática de Ensino (1ª ETAPA);
Novembro - Nasce o Cordel do Darwin;
Novembro - Aprovação da inserção do Projeto nas Escolas Estaduais de Campina Grande pela Terceira Regional de Ensino. (2ª ETAPA);

- 2009
3 de fevereiro - 1º curso de atualização para os professores da rede estadual (3ª ETAPA);
11 de fevereiro - 2 º curso de atualização para os professores da rede estadual (3º ETAPA);
12 de fevereiro - Evento: Bicentenário de Aniversário de Charles Darwin;
Março - Início do Projeto nas Escolas de Campina Grande;
Março - Nasce o Forró do Darwin;
01 e 02 de abril - Projeto de Extensão na filmado pela imprensa municipal;
21 de abrill - Submissão do artigo para a Revista Genética na Escola;
27 de abril - Nasce o teatro de bonecos;
Abril - Debates sobre Evolução Biológica e Montagem da Exposição nas Escolas de Campina Grande (4º ETAPA);
20 de maio - Dia D da Evolução (5º ETAPA);
Maio / Junho - Exposição Itinerante pelas Escolas Estaduais que participaram do Projeto.
Agora o grupo começou com por volta de vinte extensionistas, claro que após uma seleção que contou com diversos outros graduandos de biologia interessados. Alguns não foram para seleção, que contou com um resumo do livro "Evolução Biológica: ensino-aprendizagem no cotidiano da sala de aula" escrito pela própria Silvana, e portanto, não fizeram a síntese, mesmo assim se encaixando ao grupo a posteriori.

O grupo.

Ednno com seu jeito extrovertido fez uma bela parceria com a professora Bruna e as diversas crianças do Raul Córdula. A Marina puxou o senso de responsabilidade para a Escola Normal e amarrou bem a construção dos painéis, tanto que foi a primeira a terminar o Cortinão a ser exposto no Dia D, trabalhou com a professora Neves. A Raissa se superou, sempre escreveu os relatórios dos debates que ocorriam e auxiliou o professor Gláucio na montagem dos painéis no Estadual da Liberdade, se não fosse um detalhe, no período noturno. O Uirá e o Alexandre, fazem o antagonismo que se complementa, respectivamente o sério e o extrovertido, nunca pensei que se complementariam tanto, e contaram com a responsabilidade do professor Fabrício para debater de sala em sala o tema, com histórias de "Macaquinho e Macaquinha cruzando...", dentre outras. A Laura ficou no Clementino Procópio junto à professora Josilda, e conseguiu completar toda a construção dos painéis, mesmo sempre distante, foi extremamente responsável e cuidou do Clementino e do Trajano, que fica no município Soledade, uma extensionista dupla. Outra escola que foi uma grande surpresa, foi a escola Apolinário Silva da cidade Areial, que contou com o apoio do extensionista-professor Evaldo e da Milena como professora. Já no PREMEN, a extensionista foi a secundarista Andrezza, já qu'eu não estava lá na coordenação dos trabalhos, estava mais ligado no cotidiano problemático do CCBS e na construção do Dia D, do que na construção dos painéis, delegar o trabalho de coordenação à ela foi importante, e a escola conseguiu cumprir em pleno êxito o túnel que prometeram, a professora Karla esteve durante todo o processo de construção dos painéis.

Uma equipe e tanto, sem nenhum tipo de interesses individuais ou invejas, ou algum "txu-txu" prejudicável aos trabalhos. Sempre cumpriram com as responsabilidades, e quando não, com plenas justificativas, sendo as faltas comunicadas algumas horas ou períodos antes.

Arrepios no palco, agora é a hora de colocar o chapéu de aniversário (homenagem ao bicentenário) amarelo, que representa a letra A, lilás, letra B, ou verde, letra C. E agora? O Darwin pensava o quê?

Chapéu lilás. A estudante Anne Rosalyn da Escola Normal ganha.

Arrepios diversos ante às torcidas de todos os colégios participando, gritando e apoiando os representantes das escolas. Equipe de jurados de professores da UEPB com a presença de Simone Lopes, Avany Gusmão e Mathias Weller.

Estava eu lá atrás, contendo os ânimos das torcidas, principalmente a do colégio da Prata. Arrepios a parte, a nostalgia bateu subindo ao palco no final do evento, abraçar todos com um sentimento de missão cumprida.

Agora caiu a ficha e a evolução biológica está presente no cotidiano da sala de aula, seja nos corredores, nos livros ou no quadro. Imagine os gincaneiros secundaristas chegando em casa, conversando sobre os resultados com os pais, disseminando as informações corretas aos amigos, corrigindo discursos equivocados pelo município afora. Essa é a melhor parte! Não a bolsa de estudos, mas a inserção da Evolução Biológica no universo de estudantes secundaristas ortodoxos anti-evolução.

"Rome was not built in a day
Opposition will come your way
But the hotter the battle you see
It's the sweeter the victory, now"
(You Can Get It If You Really Want - Cliff, J.)

2 comentários:

Grande Allysson!

Obrigado pela lembrança. Ótimos textos.

Aguardo seus comentários e críticas, e em breve artigos, no Knol.

http://knol.google.com/k/francisco-quiumento/falcia-de-hoyle/2tlel7k7dcy4s/13#

Este aqui vai irritar certamente seu "amiguinho", o "É-néscio":

http://knol.google.com/k/francisco-quiumento/o-motivo-do-design-inteligente-implicar/2tlel7k7dcy4s/45#

E no meu Blog

http://francisco-scientiaestpotentia.blogspot.com/

Abraços primatas e felicidades

Francisco Quiumento
quiumen@gmail.com

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