Quando o assunto em discussão é humanos, é bastante comum encontrar a dicotomia entre ser social e ser biológico. Sociólogos, antropólogos, psicólogos, dentre outros, costumam construir a imagem do ser humano como ser excepcionalmente racional, pouco instintivo e não animal. A capacidade de formar e entender palavras, subjetivar símbolos, atividade cognitiva, trabalho e divisão social são argumentos fortes dos “sociais” que reprimem os conceitos dos “estudantes da vida”.
Os biólogos, em geral, não criam hierarquias diferenciando humanos de não-humanos; somos animais, mamíferos, primatas, como muitos outros. Acreditamos, em geral novamente, que a mente seja resultado de processos do desenvolvimento “normal” de qualquer indivíduo com telencéfalo desenvolvido, bem ou não.
Na tentativa de um consenso entre ambas as classes, sempre há discordâncias.
O ser humano é o produto de reações biológicas, sendo essas a priori genéticas, e fisiológicas. Os animais também. Somos instintivos, reagimos de acordo com o que sentimos e os nossos sentimentos são demandas e reações bioquímicas/biológicas. É indiscernível caracterizar um ser humano como “não animal”. Essa seria a definição biológica sobre nós.
O ser humano é o produto do meio social no qual está inserido. Os costumes, crenças e culturas de determinada população são os principais fatores que influenciam o desenvolvimento social e psicológico do indivíduo, segundo pesquisadores sociais. A convivência e a educação são fatores que estão relacionados entre a geração parental e os descendentes. Tais fatores definirão aspectos excêntricos que farão de cada indivíduo um ser único. Se nada disso estivesse correto, o que explicaria então que gêmeos univitelinos tem personalidades e gostos diferentes? Essa seria a definição sociológica sobre nós.
Várias colocações dos sociólogos e companhia fazem sentido, porém são incompletas. O ponto de partida é a formação da mente. Ela é ou não biológica? Até que ponto as reações químicas e bioquímicas formam a mente? Não temos a resposta ainda, mas há de se considerar que a mente é formada durante o desenvolvimento embrionário e que está sujeita à epigenética. Carácteres epigenéticos são aqueles que são formados a partir de genes, mas precisam de estímulos do meio para serem ativados/desativados. É a famosa pré-disposição genética.
Não há consenso entre biólogos e cientistas socias, e como água e óleo parecem ser imiscíveis. Existe um pedantismo e uma falta de literatura de ambas as partes. O que poderia ser unido em prol da ciência desfecha em unilateralidade e parcialidade.
Do ponto de vista biológico, do qual sou fielmente adepto, exponho simples conjecturas para tentar entender todo o problema. Por exemplo, o indivíduo não nasce cem por cento pronto. Não é possível ler o DNA de uma criança e dizer se ela terá tal personalidade ou não. Personalidade e mente são bem complexos, muito provavelmente formados por fatores complexos. Acreditamos que no futuro, talvez bem próximo, será possível saber, por exemplo, se um bebê poderá ser um assassino ou não, apenas lendo seu DNA. Obviamente que isso não é fardo nem destino. São probabilidades. É a pré-disposição.
O que se pode afirmar atualmente é que se há mais nos genes do que na mente de quem estuda a mente. O biológico, que é tão forte, torna-se escondido devido a dificuldade/escassez de estudos sobre o tema e divulgação à nível acessível para as demais ciências. Talvez também um certo preconceito ou “despreocupação” por parte das áreas diferentes.
Quanto mais evoluir a genética e as ciências biológicas, mais conheceremos sobre a verdadeira interação entre genética e ambiente. Por enquanto, são só paliativos. Não há uma resposta concreta às perguntas abstratas. Se a mim coubesse o poder de descrever o que é a mente, diria indubitavelmente que são apenas reações. Apenas química. Com traços de física, genética e sociologia.
Uirá Souto
1 comentários:
"Carácteres epigenéticos são aqueles que são formados a partir de genes, mas precisam de estímulos do meio para serem ativados/desativados"
Acredito que o senhor quis dizer que a epigenética é um mecanismo de mudanças ou mutações no DNA sem alteração da matriz de leitura, tornando determinados genes expressos ou não. Algo como, existe um piano de teclas brancas e pretas, a melodia executada pelo maestro seria as notas (genes) que seriam expressas de acordo com o tempo de duração da nota.
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