sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Sorte fez dinos dominarem a Terra, dizem britânicos

Extinção de um grupo rival de vertebrados catapultou a evolução desses répteis

Segundo pesquisador do Reino Unido, derrocada dos competidores ocorreu há 228 milhões de anos e pode ter sido causada pelo clima

RICARDO BONALUME NETO

DA REPORTAGEM LOCAL

Os dinossauros dominaram a Terra por 130 milhões de anos, mas esse longo reinado começou porque deram sorte -não porque fossem intrinsecamente superiores aos rivais.
É o que afirma o primeiro estudo detalhado comparando as características destes animais vertebrados e de seus rivais imediatos, os crurotarsos, durante os primeiros 30 milhões de anos de existência dos dinos.

O estudo está na edição de hoje do periódico "Science".

Os dinos surgiram no Período Triássico (252 milhões a 208 milhões de anos atrás) e foram todos extintos no final do Cretáceo (entre 145 milhões e 65 milhões de anos atrás).

A palavra "sorte" pode não ter um sentido preciso em ciência, mas o novo estudo não conseguiu apontar um motivo específico para o sucesso dos dinos e o fracasso dos crurotarsos, vertebrados quase todos extintos, mas que são representados hoje por um grupo bem disseminado, o dos crocodilos.
Em vez de sobreviverem por serem melhores, os dinos teriam tido a sorte de ver seus rivais extintos por um fenômeno externo, como uma mudança climática brusca. Este evento de extinção teria acontecido 228 milhões de anos atrás.

Consenso

A suposta "superioridade" dos dinossauros virou uma espécie de consenso entre cientistas -isto é, se eles sobreviveram e seus rivais foram extintos, foi por alguma característica deles, como a postura ereta, ou por se adaptarem melhor à umidade ou à seca.

A equipe liderada por Mike Benton, da Universidade de Bristol, Reino Unido, lembra que crurotarsos e dinossauros conviveram lado a lado, nos mesmos nichos ecológicos, durante os primeiros 30 milhões de anos dos dinos, no Triássico.

Havia tanto crurotarsos quadrúpedes quanto bípedes, vorazes carnívoros e pacíficos herbívoros. Os pesquisadores compararam 437 características dos esqueletos de 64 espécies dos dois grupos.

Eles descobriram que nenhum dos dois estava evoluindo mais rápido que o outro.
E havia mesmo maior abundância de crurotarsos do que de dinos em vários ecossistemas.

"A evolução não é mecânica. Muito dela é sorte, e muito poucos organismos são rigidamente perfeitos no que fazem -provavelmente, nenhum é. Por isso nós colocamos de lado a idéia de que ou os dinossauros ou os crurotarsos tinham uma habilidade secreta que faltava ao outro grupo", disse Benton.

"Os dinossauros não estavam fazendo nada "melhor" que os crurotarsos nos 30 milhões de anos em que conviveram", disse à Folha o principal autor do estudo, Steve Brusatte, aluno de Benton e pesquisador do Museu Americano de História Natural, de Nova York.

"O final é meio chocante, fala em sorte. Mas sorte não explica nada", diz Max Langer, da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, ex-aluno de Benton.

"Até a década de 1980 era consenso de que os dinossauros foram substituindo os outros porque eram mais adaptados. Benton começou com uma idéia contrária, de que em vez de competição, teria havido uma extinção em massa."

Não há dúvida de que dinos e crurotarsos conviveram; mas quanto disso envolvia competição? "Competição é difícil de observar mesmo em grupos vivendo hoje. No registro fóssil, é uma busca infrutífera", diz Langer, para quem apesar do novo estudo, a questão ainda não está resolvida.

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Fonte: Folha de S. Paulo, 12 de setembro de 2008

2 comentários:

É bom colocar estes cliches abaixo! =) Desconfie do óbvio

Então, interessantíssimo esse ponto-de-vista dos cientistas. Os répteis são fodas mesmo. ;]

Não sabia dessa parte da evolução vertebrata! Nem esse grupo: Crurotarso. :]

Do caralho.

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