segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"Tudo puta" -- uma abordagem epistemológica

Esse texto não é meu, bem que eu queria, mas achei interessante o conteúdo semântico dele.

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Eu participava de uma comunidade chamada “Os Piores Perfis do Orkut”, cujo objetivo era sacanear essa gentinha sem noção que aparece no Orkut fazendo caretas ridículas, tirando foto de óculos escuros em casa ou fazendo pose de gata na frente de uma parede podre.

Certa vez apareceu por lá um fake da Lisa Simpson que era o maior barato: toda vez que postavam um perfil de alguma mulher escrota exibindo vulgaridade ela botava um comentário seco e definitivo: “tudo puta”.

Alguns achavam meio injusto, afinal nem toda mulher escrota e vulgar do mundo pode ser igualada às putas (principalmente porque tem muita puta que é menos escrota e vulgar que muita mulher que não é profissionau do séquiço). A maioria, porém, adorava. Sempre que aparecia isso, tinha outros que aderiam dizendo “tudo puta” também. Logo o uso se generalizou para outros casos, tais como beeshas pagando mico, emos de subúrbio, favelados raquíticos pagando de preibói e machos esquisitos com cara de mau e um espaço inutilizado entre as orelhas.

A generalização aconteceu porque, no fim das contas, a vulgaridade e a escrotice não tem sexo nem classe social. Tanto a madame plastificada que posa pelada no apê da Zona Sul quanto a coitada favelada que aparece sentada num monte de telhas escondendo com os cotovelos as tetas caídas e fazendo pose de cadelinha assustada com o flash são, no fundo, a mesma coisa: é “tudo puta”. Assim como retardado otário que bota piercing artesanal no nariz, uma camisa do Simple Plan e um tênis All Star falsificado e posa com maquiagem excessiva numa laje de favela, assim como o riquinho metido a besta que mostra muque desenvolvido e alfabetização precária. É “tudo puta”.

Esta generalização pode ser repetida de outra forma, em outro campo. Os “místicos do conhecimento” são, também, “tudo puta”. Ou seja, se comportam de forma previsivelmente igual embora na aparência eles sejam diferentes, afinal, estão defendendo coisas muito diferentes e, em tese, podem até se odiar.

Astrologia, homeopatia, afrocentrismo, criacionismo, teosofia, espiritismo, neonazismo, acupuntura, revisionismo, design inteligente... é “tudo puta”.

Carl Sagan já dizia que no fundo toda pseudociência se baseia em nosso desejo de que as coisas sejam como nós queremos que elas sejam ― e não do jeito que são. Como as coisas não seguem nossos desejos, precisamos negar a realidade para poder crer em algo diferente. E para poder negar a realidade precisamos de um sistema que explique porque a realidade “não confere”. É nesse ponto que estas teses se tornam “tudo puta”.

Para começar a pseudociência é obscura, fala de coisas inexplicáveis, não descobertas, vagas. Todo mundo sabe qual é o objeto de estudo da entomologia, mas ninguém sabe do que fala a criptozoologia por exemplo. Todos sabem o que a história oficial diz sobre a Segunda Guerra Mundial, mas há inúmeras versões variantes circulando entre os revisionistas. Todo mundo entende muito bem o que a TE propõe, mas há dezenas de tipos de criacionismo por aí.

Diante dessa obscuridade, as putas científicas saem afirmando que têm um conhecimento especial, minoritário, perseguido, suprimido. Eles criam uma dicotomia entre a ciência “oficial”, “tradicional”, etc. e suas próprias idéias, tidas como novas, reveladoras, destrutivas para o “saber estabelecido”.

Outro argumento favorito deles todos é a crença quase mística em lideranças, cujos testemunhos, depoimentos, etc. são mais importantes do que a verdade, cuja reputação defendem diante de QUALQUER circunstância. Essas lideranças podem ser físicas (um líder mesmo) ou virtuais (um livro, um conceito), mas o efeito é o mesmo. Ver um neonazi dizendo que Hitler foi um incompreendido gênio é a mesma coisa que ver um afrocentrista dizendo que os egípcios eram negros, os gregos eram negros, os árabes eram negros, o leite da vaquinha preta era negro. Ver um homeopata difamando a “alopatia” e seus efeitos “nefastos” sobre o corpo é o mesmo que ver um criacionista espumando no canto da boca para falar que a TE conduz ao crime e à dissolução da sociedade.

É “tudo puta”.

3 comentários:

Hoje, já fiz minha parte, agora não queiram saber onde! hahahaha

Tudo Puta!

uaeuhaeuhea o texto é interessante..
Allysson.. vou publicar a minha teoria sobre sua pessoa, que falei ontem viu? Ta pensando que é do jeito que você quer é? kkkkkkkkkk

gostei muito do texto, realmente parece q foi vc msm quem escreveu....
e so pra não ficar de bobera, "tudo puta"

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