18 de janeiro de 2009 – domingo
Tudo começa no mais perfeito frio, o Sol nasce imponente e a fogueira começa a ser abastecida de lenha para o café da manhã. A velha rotina de pegar água quase acaba, e os 20 litros ladeira acima são vencidos. O programa matinal, logo após o café é visitar a população. Primeiro começamos pelo sítio da direita. Vamos à casa de dona Ivone, que nos ofereceu coco-catolé um dia antes, na casa conhecemos e conversamos com suas duas filhas, Monaísa e Moniele, que estavam assistindo desenho animado e segundo elas, adoram o Pica-pau. Conversando com Ivone falamos sobre os animais da região, dentre eles o gafanhoto que emitia o som do chocalho da cascavel, e que também algumas vezes me assustou nos caminhos. Um dia observei uma e ela estava com a parte posterior grudada a outra, que não tinha observado por se camuflarem perfeitamente no estrato herbáceo da região.
Citou também nossa estadia no mato, “- Durmindo no mato, povo véi” Falando também que nunca acamparam, muito menos com barracas por lá, e as filhas delas conheceram-nas por fora. Logo chega o marido dela, Seu Everaldo, grande andarilho e pessoa séria. Falamos sobre a Pedra do Flamingo e a Pedra do Encantado, ele decide nos levar até lá, às 13 horas é o horário marcado para partimos. Conversando disse que um padre holandês com a mãe subiram até lá, e disse também que Jorge, secretário de educação tinha levado um grupo de israelenses pra lá, e que uma das israelitas do grupo tinha treinado tiro por lá. Saímos de lá, e voltamos mais tarde após o almoço.
Enquanto isso, visitamos Cidão e família, grande figura, de boa oratória, dono de uma das únicas bandeirantes da região, e por coincidência ele estava arrumando-a, arrumando os freios e nos ensinando os nomes e como ele modificava com facilidade toda a estrutura do motor, equipando-o. Cidão e a mulher Marilene não tinham dormido ainda, nos ofereceram café, tomamos, e logo partimos, havia um grupo de familiares fora da casa tomando uma cervejinha e comendo mortadela.
Voltamos ao acampamento, Rienzy pega a água, eu vou ligar, Emerson busca a lenha, e Karina cuida do almoço. O único que não conseguiu cumprir com o objetivo fui eu, e logo arrumo outro após o almoço (macarronada sem muitos temperos disponíveis), vou buscar água com o Emerson para encher os nove litros que vamos precisar para caminharmos até a Pedra do Encantado, chegamos lá embaixo e logo após enchermos nos molhamos na água fria do poço, nos refrescando ante um Sol intenso. Com receio de que a ligação não tenha sido feita, fomos a casa de dona Luiza, mandar alguém dar o recado para a bandeirante de Gilberson nos buscar no dia seguinte às 5 da matina. Vamos correndo, conhecemos lá todo o povo, e voltamos com uma das filhas de dona Ivone, a Marcella que estava no segundo ano, uma das maiores escolaridades da região ela vai para a casa de Cidão e nós tomamos o rumo da casa de Seu Everaldo, e logo todos estão lá nos esperando para partirmos com destino a Pedra do Encantado.
Caminhamos, e observamos o solo mudando de bege para vermelho, de vermelho para escuro, de escuro para arenoso. Inúmeras cabras pelo caminho. Comemos uma espécie de pastilha natural, com gosto de eucalipto, de uma árvore chamada bom-nome. Seu Everaldo nos testando, vai pelo caminho mais longo. Passamos por bosques que parecem de filme americano, com sombra abundante. Passamos ao lado de Serras lindas, vegetação maravilhosa, com a maioria seca. Toda a vegetação se fazendo de morta. Os liquens coloriam a paisagem incrustados nas diversas rochas. Avistamos Pedra do Flamingo, isso após uns 40 minutos de caminhada pesada, Seu Everaldo não parava. Bebendo água no caminho e andando intensamente, chegamos no destino final em 1 hora e 10 minutos.
O local é paradisíaco! Um grande mirante, com um grande abismo, realidade de chapada diamantina, ou outra floresta tropical com um grande número de serras. Ele nos avisou que lá é raro aparecer corajosos. Até mesmo na Serra do Paulo, poucos sobem. Uma pena, pois quem desconhece, conseqüentemente desvaloriza. No caminho para a Pedra do Encantado, avistamos diversas cercas de pedra encaixada, e um sítio que parecia as ruínas de Machu Picchu no Peru, de tão bem encaixadas estavam as rochas, no meio do nada diversas belíssimas cercas. Lá é assim, de repente encontramos uma e outra maravilha, e casas abandonadas também. Na Pedra do Encantado escrevi isto no meu diário de bordo: “Estamos aqui no Encantado, sítio Boqueirão, que tem uma ampla visão da região, nosso guia foi Seu Everaldo, morador vizinho da Serra do Paulo, após 1 horas e 10 minutos. Avistamos daqui a Serra da Aroeira, e dá para ver um dos afluentes do Rio Paraíba. Avistamos um azul intenso digno da evapotranspiração belíssima caatingueira.”.
Passamos pelo sítio arqueológico da Pedra do Encantado, com um cemitério em uma local, um local inacessível, com diversas inscrições em vermelhos, com colares, Sol e animais pintados na pedra. Observamos também no caminho algumas rochas que pareciam pintadas, esculpidas naturalmente com tons claros e escuros intercalados, parecendo a mesclagem da pele de uma onça.
Voltamos e no caminho avistamos a Serra do Paulo, a original, embora seja menor que a lagoa da Serra do Paulo, o segundo ponto mais alto.
No caminho passamos pelo Encantado, avistamos diversas crianças galegas com aspecto de alemães e Seu Everaldo nos diz que são descendentes de europeus mesmo. Com o pôr-do-Sol e o início da noite, passamos por um filhote de surucucu?! Estava escuro e logo ela deslizou rapidamente para o mato que margeia a estrada, e assim chegamos em dona Ivone, que nos oferece comida, mas temos de ir embora, e vamos não para o acampamento, e sim para a casa de dona Luzia, serrar a bóia lá. Encontramos Seu Gonzaga no meio do caminho, no meio do nada, já que sempre andamos com diversas lanternas, ele conseguiu nos identificar de longe e ficou nos esperando. Dona Luzia nos prepara uma mega janta, cheia de carne, arroz, feijão, macarrão e queijo. Comemos e logo nos encontramos fartos. Conversamos também um bocado. A casa de dona Luzia tem bateria de carro preservando energia, como as outras casas adjacentes que visitamos. Os assuntos na janta versavam sobre algumas situações, um tanto nojentas para sociedade, como no dia que bebemos a água com barata do jarro da casa de Seu Gonzaga. O próprio, nos contou uma história em que uma família estava colocando a água para ferver, fazendo café, e um “coroco” caiu dentro, e o tempero do café estava maravilhoso, quando olharam dentro da espécie de bule de ferro estava lá o largatão feito papa. Após essas conversas um tanto desfavoráveis, e outras de caças, e da surra que dona Luiza levou dos macacos de cara branca na Pedra do Flamingo caçando, gargalhamos outros tantos. Dona Luiza era caçadora e deixou a caça por ser perseguida por uma onça grande, de acordo com eles, as onças de lá tem por volta de 50 quilos. Contou também sobre os veados da região, que são vermelhinhos e listrados quando pequenos. Tamanduás também são encontrados. Por volta de 21 horas voltamos ao acampamento. Dormimos exaustos, para acordar cedo e irmos para casa. Última noite no mato.