sábado, 31 de janeiro de 2009

Holismo e Tecnologia

Talvez seja uma visão simplista, mas é fato que em menos de um século, toda uma nova visão de desenvolvimento foi criada. Nesse último século presenciamos um "Bloom" tecnológico, em diversos aspectos. Independente do caráter para qual estas foram criadas, proponho uma segunda análise sobre o impacto que estas causam na sociedade.


De certa forma, estamos de um lado da equação, e seria hipocrisia criticá-la já que compactuamos com ela. Dependemos da tecnologia. O desenvolvimento tecnológico vem facilitando tarefas domesticas e profissionais, nos economizando tempo e convergindo atividades. Estamos sendo constantemente impulsionados para nos adequar a algo, de maneira sutil.
Imagine isto como uma onda... Energia em movimento. Caso tenhas oportunidade de aproveitar um pouco dela, ótimo. Caso contrário, não fará diferença.
Megalópoles em pleno crescimento, dividindo a paisagem com pessoas que nunca irão ter acesso a um terço desta tecnologia.
Será o ideal capitalista, confortar a nossa mente com o intuito de obliterar a nossa visão?
É inquietante.


Talvez, se esta mentalidade fosse para o túmulo com esta geração, esperaríamos um pouco mais de mudança a curto prazo. Mas não irá. O processo de alienação infelizmente toma parte das instituições de ensino, do fundamental ao superior. Tudo é muito difícil, o tempo é muito curto, os preços estão muito altos.
Adotar uma visão retrógrada a essa altura, apoiando-se no argumento que está tudo perdido não adianta absolutamente nada. A deliberação de ideias, mesmo que individualmente, irá programando sutilmente esta nova memética.
Porque não questionar os conceitos? Porque não questionar o óbvio?
Com certeza os discursos reflexivos não são generalizadores. Sempre vão existir pessoas que sentem prazer em coagir outras, pessoas que matarão outras, etc. mas por que tornar isto comum? Será lógico apoiar um sistema que prega a impessoalidade? Talvez pudéssemos apenas reduzir este sentimento aqueles que simplesmente são assim!
Criemos, então, este choque cognitivo, começando nas escolas! A revolução do porque!


Quantos Ricklefs vocês vêem nessa foto? =)

Dica: I Seminário Internacional Sobre Exclusão, Inclusão e Diversidade

Acontecerá em João pessoa, dos dias 24 a 27 de março o I Seminário Internacional Sobre Exclusão, Inclusão e Diversidade.




O evento objetiva promover o espaço de integração entre todos os pesquisadores da temática e os interessados, do meio acadêmico e da sociedade civil, em um campo reflexivo acerca da construção de alternativas de inclusão social e educacional, respeitando–se a diversidade frente à superação da exclusão social, em nosso país.

O evento será dividido em Grupos de trabalho, variando em diversos temas. Os interessados em inscrever trabalhos poderão fazê-lo no formato de poster, resumo ou artigo completo de no máx. 15 páginas.
As inscrições de trabalho serão do dia 20/10/2008 até 28/02 de 2009, para realizar sua inscrição clique aqui.

O evento esta aberto também a qualquer pessoa que não pretende apresentar trabalhos, e a inscrição pode ser feita até mesmo no primeiro dia do evento.

Na minha opinião este evento tem muito a somar. Consiste em mais uma iniciativa da pós graduação da UFPB, agregando um título forte e um caráter internacional.
Não podemos esperar que o evento abarque todo o patamar esperado no quesito público, mas é importante que os pesquisadores circunvizinhos se mobilzem e participem. Desta forma, podemos construir uma comunidade científica ABERTA e não segregada da sociedade.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

São João do Tigre – 3º dia

15 de janeiro de 2009 – quinta-feira

PIC_0042

Acordamos às 5 horas e saímos da casa de dona Beta e andamos pelo distrito de Santa Maria.

PIC_0036 PIC_0039

Passamos em frente da Igreja, e caminhamos até o final da cidade, dando uma volta pelo cemitério e por fim, voltamos para o café da manhã e, logo após, nos encaminhamos para o “mato” da Serra do Paulo, como os moradores dizem. No café da manhã, conversamos sobre política. Gilberson chegou para nos levar à Serra do Paulo, eis nossa ida oficial. Percebemos durante o caminho inúmeros resquícios de lixo em todas as partes do distrito.

PIC_0033 PIC_0034

Chegamos por lá com o Sol das 9 horas no sítio de Seu Gonzaga, pai do Gilberson e ex-marido de dona Beta. Após a calorosa recepção fomos convidados pelo Gil cicerone a conhecer o olho d’água com “água mineral”, e também o poço com bomba movida à luz solar. Um oásis verde no meio de uma Caatinga seca.

PIC_0130

Saímos do sítio de Seu Gonzaga em destino à Serra do Paulo, e Gilberson nos deixa logo próximo a base da Serra. Passamos até o “razoável” infernal Sol de meio-dia, e também nos horários posteriores adjacentes, por dentro de uma mata cheia de urtigas e unhas de gato. Conseguimos acampar na metade do caminho entre o oásis, onde pegamos a água de cada dia, e o Pico do Paulo. Armamos nossas duas barracas iguais e finalmente tivemos as mochilas esvaziadas, com um almoço baseado em miojo e uma janta maravilhosa, contendo arroz com soja para o único vegetariano do grupo. Soja com o molho temperadamente maravilhoso, o quê culinário de Karina, se perpetuaria pelos próximos dias, como bebida tomamos o velho e famoso tang tangerina.

PIC_0083 PIC_0090

Saímos a primeira tarde para coletar lenha e tomar banho. A noite colocamos as armadilhas para os colêmbolos, lá no oásis, que contém capim elefante e é um atrativo natural para cobras e outros animais. Sentimos que éramos observados, com a presença de alguns sons estranhos, relâmpagos incessantes eram vistos do outro lado da Serra. Ao chegarmos em nossas casas, tivemos um belo papo próximo à fogueira (fogão). A Lua nasceu no alto da Serra às 22 horas, bela lua minguante, belos ventos frios. O grande suspense da noite ficou pela queimada em matas próximas, preparando a terra para o cultivo. Estávamos preparando o almoço, quando pensávamos que o clarão seria a Lua, mas não, a fumaça e as grandes chamas invadiam o nosso campo de visão, ficamos preocupados com o tamanho do incêndio, e estávamos no caminho do vento, seríamos vítimas fáceis do fogo. Emerson e Rienzy subiram a serra para averiguar o local e encontraram o fogo alto se alastrando, disseram que o fogo estava seguro, com dois focos um de onde começou, e outro mais próximo ao final do sítio para onde o vento levava as chamas. Ficou o susto como lembrança, e a sensação ruim de ter o hábitat de outros diversos animais destruído.

PIC_0085 PIC_0064

PIC_0075PIC_0054 PIC_0096 PIC_0103

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

São João do Tigre – 2º dia

14 de janeiro de 2009 – quarta-feira

Bem cedo, uma senhora abraçada com uma garrafa de 2L contendo leite nos dá um bom dia e com uma cara de curiosa nos pergunta quem somos nós. Essa pergunta se deu, segundo ela, pois já estava rolando na cidade um boato que chegaram três rapazes durante a noite, e não sabiam quem eram , e nem de onde vinham. Esclarecida a dúvida, quase que instantaneamente após esta mulher ir embora, as pessoas na cidade mudaram completamente o olhar aos novos forasteiros. Achamos incrível como as informações (ou fofocas) se espalham pela cidade. Ainda pela manhã, conversamos com o Prefeito, que nos atendeu prontamente e ficou interessado nos colêmbolos e oligoquetas que poderíamos coletar. Conversamos sobre as expedições arqueológicas e andamento das mesmas, e ele prontamente nos revela que estava esperando maiores contatos, desta forma saímos da sala. Sem sucesso, esperando o prefeito nos oferecer o auxílio de transporte, voltamos à praça e ficamos no intenso zênite solar das 9 horas da manhã. Rienzy compra um baralho e começamos a nos entreter no inferno urbano ali localizado, onde temos companhia da ebriedade de Naldinho, um dos funcionários do município, que se torna insuportável quando bebe. Ficamos na praça e logo a notícia se espalhou que os três indivíduos que dormiram na praça estavam a espera de uma Paula, aquela brincadeira telefone sem fio deve ser análoga nestas horas. Estávamos a subir na Serra da Paula, mas como a Serra da Paula para eles é do Paulo, não sei se por machismo ou patriarcalismo, as fofoqueiras de plantão se apropriaram da notícia, embora não entendendo bem o que queríamos por lá. Logo avistamos pessoas queridas, e que lembraram de meu rosto por visitarem o Sítio Pinturas durante uma das expedições arqueológicas que participei. Somos recepcionados próximo ao meio-dia por Frô, uma das figuras mais conhecidas do Tigre. Recebemos convites para tomarmos café na casa de “vizinhos”, na casa de dona Frô e no entorno da praça, próximo à Igreja, onde percebemos a casa de apoio da prefeitura e a utilizamos para escovar os dentes. O triste foi saber que poderíamos dormir por lá, em acolchoáveis camas daquele recinto, aí o sentimento de culpa de dormir na praça fluiu, onde poderíamos ter ligado antes reservando nossa dormida por lá. Então, continuamos nossa tarde esperando a chegada de Karina às 14 horas, e ela finalmente chega depois de algumas escalas em Afogados, Monteiro (onde almoçou) e São Sebastião do Umbuzeiro. Vai com Rienzy que ainda não tinha almoçado, e lá recebo dicas de professores do município para pegarmos algum carro escolar para Santa Maria, distrito do Tigre, embora não seja ano letivo, carros podem ser fretados pela prefeitura que banca as despesas do transporte, e assim chegaremos ao pé da serra. Outra dica importante é conversar com Cidão e ele prontamente nos auxiliaria quanto às informações básicas do local. Eles pediam também para conversar com o Márcio, um dos secretários para liberar facilmente o transporte, e como dica serviu, tanto que conseguimos nossa ida pela prefeitura após uma conversa com ele. Chego animado no restaurante de dona Frô para contar a novidade ao restante do grupo, pois tinha ido sozinho conversar com o Márcio, e voltamos à prefeitura com nossos pertences. Na prefeitura sabemos que vamos ser ciceroneados por dona “Beta”, que ao descer de sua bandeirantes 4x4 perguntou se éramos “Sem-terra”, e assim ficamos esperando eles receberem o “atrasado” até às 17 horas e partimos no final da tarde, sob direção do Gilberson, um dos filhos de dona Beta, o outro chama-se Gilcleiton, este último conheço mais no mais a frente. Vamos conversando sobre nossa ida ao Tigre e eles vão se entusiasmando com nossas idéias e objetivos, e logo conheço a entrada para o “Pico do Paulo” e nele vamos subir em outro dia, pois a Beta nos ofereceu estadia e comida, e desta forma, respondemos com total disposição e atenção àquela família de Santa Maria, que vive na melhor casa do distrito.

PIC_0051

Fato curioso ao esperarmos Karina na praça, Emerson foi comprar sandálias com Rienzy, e o chegar a uma das lojinhas levam uma bronca do vendedor, onde disse que o par de sandálias “havaianas” tradicional rosa era feminina. Tal fato quase se repete ao Karina auxiliar na compra, dizendo que as sandálias eram para ela, mesmo com o olhar de reprovação ao ver o pé dela e comparar como tamanho da sandália. Antes do extenso percurso mais de 34 quilômetros para Santa Maria, conversei com dona Lourdes, que me contava a realidade do campo, falou também sobre o desinteresse dos filhos em estudar, com o interesse em comprar gado. Disse que foi uma única vez a Campina Grande, e não tinha ido à João Pessoa e, conseqüentemente não tinha ido a praia. Um dos fatos que me impactou neste dia, e me fez refletir sobre as oportunidades poucas de valorizar a natureza, mais precisamente a Hidrosfera que toma por volta de 2/3 do planeta. Após ter ganhado confiança me conta um pouco de sua família, do sustento diário, da forma de vida, da infância, dos casamentos da região, da filha que era muda, dos familiares, da energia elétrica e do pai dela que é corcunda, da valorização do trabalho artístico, e do meu primeiro contato com a palavra Renascença, uma espécie de artesanato típico da região, tanto trabalhoso diria.

PIC_0020 PIC_0016

Na casa de dona “Beta”, após chegarmos logo de noite, temos como janta a sopa com creme de leite, sorda, queijo e pão. Um bate-papo legal na mesa, com um banquete de final de noite na janta, falando um pouco sobre a história da Paraíba. Conversamos também sobre a história do local. Após o jantar conhecemos diversas colchas de renascença, que são mostradas em outra mesa, feitas me alguns meses de trabalho, onde há valor principalmente histórico, desta forma priorizando o zelo à cultura da região, embora artesanatos obscuros, perdidos em armários, por não haver um típico específico de feira ou exposição que enfatize tais trabalhos.

PIC_0006 PIC_0011

Fotos antigas também foram observadas, da paisagem, e uma especial da Igreja que é o marco arquitetônico do distrito. A Igreja de São João do Tigre foi construída depois da Igreja do distrito de Santa Maria. Desta forma, a história de Santa Maria é mais antiga do que a de São João do Tigre. Segundo placa por trás da Igreja, a história religiosa do local tem início em 1860, podendo ser estendida ao passado.

PIC_0001 PIC_0032

PIC_0029

A saída da cidade que fica ao lado de Pernambuco, tem como destino a cidade chamada Poção. O distrito é valorizado também pelas Serras circunvizinhas. Na placa que contém alguns fatos históricos do distrito conta que cangaceiros do grupo de Virgínio, promoveram atrocidades e matanças na região onde foram em busca de bens. Outro fato curioso é o cemitério atrás da Igreja, que não foi salvado, tendo ainda a construção de uma antena de telefone fixo e algumas árvores que podem ter influenciado a deterioração dos vestígios. Ainda no distrito de Santa Maria, famílias tradicionais ficaram esquecidas, devido ao desconhecimento literário completo dos sobrenomes, seja no distrito ou na cidade de São João do Tigre. O distrito é hospitaleiro, onde todos tem pronta disposição a ajudar, e recepcionar informando os forasteiros. A Igreja foi reformada ganhando formas modernas, onde há um padre temporário de Poção que celebra as missas. O povo é um tanto omisso na hora valorizar aquele hotspot histórico e biológico, os discursos são rodeados por normalidades para eles, que são tesouros para os que chegam à cidade. A conversa com dona Beta também rodeou a emancipação do distrito, com a futura prefeita, e risos tomaram conta da sala. Uma área intocada, onde somos os pioneiros a desbravar tal área, acampando ao lado do Pico do Paulo, melhor notícia impossível. O diálogo da população ante nossa ida desvaloriza-a, caracterizando o processo de desconhecimento e desvalorização da área, como bem expresso anteriormente. O material artesanal é vendido em Poção-PE, e diversos cursos são promovidos, embora em um grande intervalo de tempo. Os limites do distrito são ligados a Poção, Pesqueira Santa Cruz. O distrito cresce ao lado e a frente da Igreja. Há energia desde o final dos anos 80, iluminando a área. Antes havia um motor parecido com o barulho de cortadores de agave, em festa de padroeiro o motor era ligado, e quando acabava o combustível, acabava a festa. Os casais dançavam no claro, e namoravam após o motor ter parado. Durante a observação das fotos da casa de dona “Beta”, imagens de cadáveres apareceram nos álbuns mais antigos.

PIC_0043PIC_0050

O tatu-peba que se encontrava atrás da casa, iria servir posteriormente de alimentação, exalando odor intenso e com um barulho parecido com um suíno, nos despedimos dele, embora com uma tremenda vontade de soltá-lo. Encontramos também no meio do caminho entre São João do Tigre e Santa Maria uma raposa. O conceito de que toda a casa do distrito tem armas é errôneo, só espingardas e 38, geralmente mantidas por caçadores. Mendigos são ausentes na região. Uma informação importante foi dita ao falarmos sobre o registro histórico do distrito onde havia um livro, do padre João Jorge, sobre a história clerical da Igreja de Santa Maria.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

São João do Tigre – 1º dia

13 de janeiro de 2009 – terça-feira

Emerson, Allysson e Rienzy na rodoviária nova, todos reunidos por volta de 15:45. O primeiro a chegar é Emerson, depois Allysson, e por último Rienzy. Início de lua Minguante e nós em direção a ela. Retiro a barraca das costas que estava presa à mochila coloco em uma das mãos, equilibrando e distribuindo o peso com o barril de 20 litros que estava na outra (claro que preenchido por água menos que a metade). Nosso ônibus saiu às 16:00 rumo a São Sebastião do Umbuzeiro (cidade mais longe que podíamos chegar através de um ônibus de viajem). Ao todo foram cinco horas dentro deste ônibus, descendo dele então umas 21:00. Quando chegamos a São Sebastião do Umbuzeiro, lá se festejava o dia do padroeiro da cidade. Assim, havia muito movimento na cidade ainda. Decidimos não parar lá. Pedimos algumas informações a alguns moradores como: qual estrada nos levaria a São João do Tigre, distância e se havia perigo irmos à noite. Seguimos caminhando então pela estrada que nos levaria a nossa cidade final. Os temas versavam sobre religião, e logo eram as primeiras noções de discurso do nosso recém-amigo de viagem, o Rienzy. Emerson já conhecia de longa data. Conversa vai, conversa vem, paradas também, e nos primeiros metros uma picape saveiro sem nenhuma carga, nada de carona. Algumas curvas a frente, parados debatendo assuntos devido ao peso extraordinário que carregávamos, ia chegando José, como ele próprio se identificou, um morador da região que caminhava sozinho pela estrada. Logo, um caloroso boa noite é verbalizado, quebrando assim o gelo, a barreira social, e nos aproximamos dele, perguntamos para qual sentido ia, e onde ele morava. Após as respostas escutamos a primeira demonstração de hospitalidade “ – Vocês querem um pouco d’água que tenho aqui?”. Imagine só, uma pessoa que quase nos passava imperceptivelmente, onde pensávamos que vinha do além para conversar conosco, e ainda nos oferecer água. Após isto, José nos deixa e continua a caminhada. Colocamos as mochilas nas costas e passaram algumas Toyota Bandeirantes 4X4 modificadas (comuns na região) para São João do Tigre, mas sem sucesso quanto a carona. Deveria concluir que por medo de três indivíduos com semblantes de forasteiros andando por aquelas bandas, só poderiam ser ladrões. Não obstante, continuamos a andar com destino à São João do Tigre, com a coluna “gritando”, até que por volta dos quatro primeiros quilômetros pós saída de Umbuzeiro, pára um caminhão sem carregamento. Falamos que íamos para o Tigre, e o motorista nos mandou subir. A melhor parte foi quando contamos 45 minutos de viagem de carona até São João do Tigre, em uma velocidade digna de Rally sem distinção entre buracos pequenos ou grandes, o caminhão cortava a estrada noite afora. Antes chegaríamos de madrugada, agora chegamos às 23 horas na praça principal. O detalhe de nossa carona foi um caminhão todo remendado, cheio de buracos visíveis, e se minha mochila não fosse grande o suficiente para não adentrar em um dos diversos buracos que cabiam minha perna, teríamos certeza que ela cairia na metade do caminho, quebrando alguns objetos importantes de nossa viagem. As madeiras que compunham o caminhão rangiam intensamente com risco de quebra e as correntes completavam a poluição sonora. Tantos e tantos buracos de diversos tamanhos e formas pelo caminho levou o motorista a parar o caminhão que estava nas últimas, o suspense tomou conta deste momento. Pois no início, antes de subirmos no caminhão ele perguntou: “- O grupo são só vocês?” O motorista e o acompanhante descem, o motorista sem a camiseta e o companheiro com uma cara de poucos amigos. Logo, nos veio a sensação de medo quando eles disseram em outro idioma que significava algo relacionado às rodas do caminhão, e aí aumentou o suspense, pois não sabia o significado daquela palavra, muito menos a razão deles se aproximarem de nós. Após olhar o problema, pegaram o martelo, oferecemos ajuda, e nos aquietamos mais. Ele apertou alguma espécie de parafuso e seguimos viagem por 10, 20, 30 minutos e nada de chegar à São João do Tigre, até quando entramos em uma rua do município, que estava no horário deserta. Quando fui agradecer a carona, com no mínimo um obrigado, vejo uma tatuagem totalmente desbotada no braço, em tons de azul, onde era expresso o topless de uma mulher. Depois fui saber que aquelas tatuagens não eram feitas em presídios ou algo do gênero, e sim em reuniões de amigos que tiram motores de rádio tipo toca-fitas e afiam o eixo central de forma a ficar pontiagudo como uma agulha, feito índios modernos, algo que me impactou. Bem-humorado, solta uma piadinha. “- Olha aí, não disse que era longe?” Descemos do caminhão e caminhamos para a praça, nos deparando com um grupo de jovens tocando violão. Desta forma, saímos de cena (com aquelas mochilas enormes chamando atenção) e sentamos próximo à Igreja, embora na mesma praça. Rienzy vai ao telefone e fica alguns minutos, e fico conversando com Emerson. Detonamos o primeiro lanche da viagem, um panetone, por conta do peso. Esperamos o tempo passar, deitamos na praça e ficamos lá, onde diversos transeuntes curiosos com nossa presença não nos tiravam os olhos. Enfim, “dormimos” na praça. Preferimos não armar nossas barracas para não chamar ainda mais atenção e para não perdermos tempo reorganizando tudo na manhã seguinte. Dessa forma, tínhamos apenas o chão gelado como nossa cama e nossas mochilas como travesseiro. Havia um caminhão com redes penduradas por perto, embora com pessoas dormindo em um local mais reservado. O frio começa e com ele os sustos, o principal foi de um cachorro das imediações que ao fuçar o lixo de uma casa nos acorda com um estrondoso som de alumínio batido. A insônia aperta, nada de Sol raiar, os minutos são contados por Emerson, e começo a roncar, com cochilos leves, até acordarmos pela manhã, todos entrevados, com aquele ar de pessoas estranhas, que no mínimo iriam roubar a cidade.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

São João do Tigre – PB, a volta

PIC_0104

Tenho o prazer de informar-lhes que voltei de São João do Tigre-PB, mas por que espalhar esta notícia aqui no blog?

A resposta vocês saberão logo mais, quando expor dia por dia a experiência do grupo formado por quatro universítários em terras jamais acampadas. Tanto que batizamos nosso local, e único possível de se acampar, de “Vila dos Extremos”. Ficarei feliz por compartilhar toda minha alegria com vocês, com aquele sentimento de missão cumprida.

Uma série de postagens, do dia 13 a 19 de janeiro vocês acompanharão, regados às emoções de nosso dia-dia no “mato”, como dizem os moradores da região.

Enfim, vamos mostrar um pouquinho do segundo ponto mais alto da Paraíba. Se vocês não vão à Lagoa da Serra do Paulo, a Lagoa da Serra do Paulo vai ate vocês!

  PIC_0090

domingo, 18 de janeiro de 2009

Livros por Créditos

Refletindo..
Eu tenho um objeto, e não o uso mais... José não tem este objeto, e está indo comprar um.
Dois objetos, eventualmente, irão para o lixo...
A partir desta lógica, trago até vocês o serviço público Trocando Livros.
O site Trocando Livros consiste em uma idéia muito criativa, que serviria para solucionar o meu problema e o de João, caso o objeto fosse um livro.


O sistema é bem simples: Eu faço um cadastro e depois inscrevo no site alguns livros que estão mofando e eu gostaria de passar à frente. Estes livros irão, desta forma, fazer parte da vasta biblioteca presente no site, e assim que alguem se interessar por ele, irei enviá-lo pelo correio para esta pessoa (Única parte dispendiosa do processo). Desta forma, ganherei um crédito, e ficarei apto a solicitar qualquer livro disponível na bilbioteca do site.

Legal né? 1 Crédito = 1 Livro, 1 Livro = 1 Crédito.

Por que comprar um livro novo, se você pode se desfazer de um velho, e ainda por cima aproveitar o de alguém? Pensem nisso!

domingo, 11 de janeiro de 2009

São João do Tigre - PB

Olho na janela, noite de lua cheia. Já era para o grupo ter partido, pegado estrada. Então, sinto informar, mas nestas férias ganho vida de mochileiro, eu e mais dois amigos, ao todo são quatro, mais o amigo de minha amiga. Um grupo de quatro aventureiros em busca do segundo ponto mais alto da Paraíba, a Serra da Paula, que fica menos de 10 metros abaixo do Pico do Jabre, e faz parte com diversas outras Serras, da divisa entre a Paraíba/Pernambuco. A Serra se encontra na cidade de São João do Tigre - PB, extremo sul da Paraíba. Onde a Caatinga impera, e o calor também, tanto que nossa maior preocupação será encontrarmos água pelo caminho. Não temos preocupação com comida, assaltos, rota certa, mas sim com a pergunta, que assassina meus neurônios.

Será que lá tem água?

Ano passado (2008) estive por lá, em meados de fevereiro, época de seca, sondamos o entorno do Serrote do Caboclo, para uma futura expedição arqueológica, que em abril foi efetivada.

Sairemos nesta terça-feira, 13 de fevereiro, às 16:30 para Sâo Sebastião do Umbuzeiro, cidade mais próxima. Depois do itinerário que passa por Sumé, Monteiro, Zabelê até chegarmos a dita cuja cidade, por volta de 20:30. Portanto, não há transporte neste horário para São João do Tigre, e assim vamos caminhando madrugada afora, contemplando a natureza e a lua cheia. O frio é intenso a noite, pretendo não parar, a caminhada constante é fundamental para chegarmos na cidade pela manhã. A caminhada até São João do Tigre dista 20 quilômetros, e chegando na cidade, mais 20 quilômetros até a Serra. Esperamos ficar, no mínimo, cinco dias fora de casa, longe do celular, computador, televisão, parentes e amigos. De quebra vamos coletar a fauna de solo, alguns colêmbolos e oligoquetas, que por ventura estarão lá bem escondidinhos, visto que esta é a época deles se esconderem. Animaizinhos que adoram sombra e água fresca, o que lá nesta época não há.

Seguindo a canção, vamos chegar, na metade do caminho à Serra, na Área de Proteção Ambiental das Onças, a maior (36.000 hectares de Caatinga Fechada) e menos conhecida da Paraíba, vide fotos aqui, local encantador, cheio de ossos por todos os lados, cobras, escorpiões, raposas, diversos pássaros. Serras e serrotes compõem bem a paisagem. Subindo em qualquer um deles, sentimos o quão bonito é o local, município que já tem mais de trinta sítios arqueológicos catalogados. Segundo o projeto que tramitou para aprovar aquela área como proteção ambiental, haviam onças vagando pelas matas, e por isso o nome da cidade “do Tigre”. Os nativos sempre gostam de aumentar as alegorias. Hoje não mais existem onças naquela área, pelo menos acho, já que não há pesquisas por lá também. Caso encontre uma capturarei a imagem, e claro ficarei parado esperando ela passar. Invadi o hábitat dela, ossos do ofício.

Poderia optar por ir ao Pico do Jabre, ou Serra de Caturité (outro ponto também tão alto quanto), mas preferi ficar em São João do Tigre, local bem longe da civilização urbana, embora vasto de motoqueiros, cavalos e aqueles carros “bandeirantes” com a carcaça modificada para transportar passageiros.

Lembrando que os motoqueiros de capacete naquela área não existem, portanto há de se desconfiar de algum motociclista correto ao passar por nós.

Vamos adquirir um pouco do dia-dia de lá, vamos ficar amigos da rotina do local, quem sabe visitar uma capelinha, seguir algum ritual a noite, vivenciar outras culturas, escutar mais do que falar, ah! E claro, anotar! Anotar tudo e trazer para o blog, necessitamos de informações sobre aquela área pouco valorizada da Paraíba.

O novo prefeito de São João do Tigre, Eduardo, esta no lugar que foi de Seu Genuíno, por estar caducando e não conseguir nem ao menos se deslocar de João Pessoa, cidade onde mora, para São João do Tigre. Esta notícia pelo menos foi ótima, visto que o Eduardo já tinha diálogo com a equipe de arqueologia, e assim fica fácil chegar até ele com proposições, parcerias.

Capturarei imagens e colocarei em meu álbum virtual, para aumentar a valorização daquela área. O calor lá é intenso, principalmente quando o zênite solar está formado, logo um fototropismo negativo se formará, e quem sabe adentrarei às terras desidratado, sete palmos abaixo dela, o nosso inferno, embora paraíso dos colêmbolos.

Uma boa mochila e uma boa faca. E no caso de São João do Tigre, temos de ter uma boa cisterna no caminho também.

Deixo este texto com uma revelação, pois aprendi a cozinhar no mato, com com muita fome foi aprendendo aos poucos. Vegetariano no mato tem de cozinhar sua própria comida, pois sempre chega um engraçadinho com uns temperos musculares na panela e acaba estragando a comida. Meus companheiros de viagem são pessoas compreensivas, vão conseguir me aturar por uma semana. Claro, se faltar comida, a última alternativa será caçar e comer carne. Deixando claro, a última alternativa.

Imagem de São Sebastião do Umbuzeiro - São João do Tigre. Fonte: AESA


2

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Piratear é Preservar?


Será?

Fonte: MacMagazine

A Morte Como um Prelúdio

Há tempos não escrevia...


Estava lendo o post "O Final de Um Blog", e refletindo sobre a imagem do túmulo que tem lá.. Achei bem interessante a analogia..

Mas quem sabe a "Morte" deste blog, não era o elemento chave que faltava para entrarmos em uma nova fase?
Talvez após a "morte", as entranhas, partes de fácil decomposição, foram retiradas de nós... carcumidas!

A parte mais simplória, mais visceral, se foi! Se fizermos uma analogia disto com a maturidade, acho que este processo nos fez mais maduros! O Esqueleto deixado para traz, mostra fisicamente que passamos por uma situação apertada, mas o que sobrou, meus amigos, é justamente a parte mais forte!!! Osteoblastos Universais, Cristais de Adamantium, Nitrogênio Líquido, Tudo! (Momento Allysson)...

Através desta força de seleção natural, estamos aqui, em parte, mas estamos, Firmes e fortes! Prontos para colocar o blog nos trilhos novamente.


Mais uma vez me desculpo pela minha ausencia, mas agora é tudo novo! A começar pelo template!



bingo Web Poll



Considero isso como um presente de "Ano novo" pra o Holística... .e o quão simplórias são estas coisas de presentes e promessas.. como se ao passar de alguns segundos aquela pessoa amarga vá se tornar o serginho malandro... Como se tudo que aconteceu não importasse mais, só porque se passaram alguns dias.. meses.. segundos! Ano novo, ano velho... Qual a diferença?

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Réveillon 2009 Brochante

Dia 31 de dezembro, saio de Campina Grande com destino à João Pessoa, chegando na capital por volta das 22 horas, com dois litros de vinho e um de espumante. Saio eu um tanto ébrio, e uma acompanhante, ao chegar na rodoviária de João Pessoa, agora em sentido à Integração, para termos como último destino o Busto de Tamandaré. Chegamos na Integração, um imenso tumulto toma conta da entrada e saída de passageiros dentro do ônibus. Entro dentro do tumulto precavido por perder a contagem regressiva, que marca a entrada do ano de 2009. Chego totalmente suado em Tambaú, próximo à Feirinha, e ando em sentido ao Busto. Chegando lá, mais um grande tumulto, agora para garantir lugar ante a queima de fogos. Logo, com um misto de músicas de rap e de reggae tomam conta da praia, começo a dançar e ser repreendido, como moleque que bebe e não sabe o que faz. Santa hipocrisia daquela que me acompanha e acaba com minha noite. Ser ébrio é um erro na sociedade, e foge às normalidades. A justificativa dela: "- Onde começa o limite de outrem, acaba o seu". Embora, as minhas práticas fossem de simples danças com acústica fantástica que estava extasiando meu ser com toda aquela multidão de pais-de-santo me acompanhando alegremente. Chegando próximo aos segundos finais todos se aproximam da beira-mar para observarem os fogos. A organização do evento se importou tanto com eles, que esqueceu da contagem regressiva. Uma gafe imensa, onde todos ficaram esperando com o dedo polegar segurando a tampa de champagne (ou de outros - como eu - de espumante) a "virada" do ano. A minha não demorou muito, logo ao tirar aquele protetor de arame que segura a tampa, a tampa foi junto, tamanha pressão molhou todos em minha volta, e mais uma vez a acompanhante ficou emburrada e com a cara feia. Ao chegar na beira-mar, fui logo soltando um palavrão, exaltado com todas aquelas psicodélicas cores dos fogos: "- Que ano novo do caralho!". Recebendo um:

- Cala a boca.

De um casal que estava logo a frente. Desde então fiquei calado, e com a cara de poucos amigos, pude revidar em silêncio tal investida. Até o casal novamente se manifestar. "-Nossa que lindo! Maravilhoso isso!" Revido com:

- Ainda querem qu'eu cale a boca ante tamanha beleza.

Aí a noite desandou, minha companheira não me beijou, os hormônios foram para os neurônios, sentei lá na areia da praia, e nem a animação (grande) de Moraes Moreira me colocou novamente nos trilhos da alegria. Revi diversos amigos, essa foi a melhor parte, revi uma querida paquerinha na orla, que há tempos não entrava em contato comigo. Acabou Moraes Moreira, o frevo começou e com ele uma imensa poluição sonora, com diversas músicas escrotas ao longo da orla, onde ninguém respeitava ninguém. Todos aqueles grupos de antropóides em busca de amor fácil, onde se misturavam aos grupos de famílias, que estavam ali para curtir as boas conversas de final de ano. Todos se tolerando. Tolerância, palavra que não me faltou, ao ter de aturar tamanha carga de atitudes da acompanhante, e emoções de amigos, que me convidavam para os mais diversos locais, barzinhos e bordéis de João Pessoa naquela noite. A tristeza foi completada pela falta de contato, afinal o bônus do celular acaba no último dia do ano, e nem tinha me dado conta disso, tanto que não fiz nenhum contato pós meia-noite, mil promessas, mil contatos, nenhum cumprido. Um gole, dois, três, o vinho foi embora, e com ele a análise do momento social foi discorrida ao sentar com minha acompanhante próximo a algum quiosque na praia de Cabo Branco. Após alguns momentos, agindo como Gramsci, "desocultando a realidade", escuto de minha companheira um:

- Para de falar merda.

Logo após isso, os dois em silêncio, sem se falar indo à praia de Tambaú. O casal de primatas foi se nutrir na feirinha, eu na velha e famosa tapioca de quatro queijos, que estava com desejo, feito essas crenças de grávidas que não comem o que desejam, e como consequência os bebês nascem com a cara do desejado. Ela comeu um X-tudo, com tudo aquilo que repudio, carne dos mais variados tamanhos, cores, texturas e cheiros, cheiros estes que me lembram a loja do McDonalds, o consumismo e o meu vômito eterno mental a posteriori. Sento na areia da praia bêbado, agora me embriaguei de vez, com o último vinho, bebi ele sem cessar, em diversos goles, um atrás do outro. Sentamos para observar a praia, o Sol nasce, eu não me dou conta. E pluft, estamos a pegar outro ônibus lotado em sentido a rodoviária, cheio de palhaços fazendo escárnios sexuais no fundo do ônibus. Voltamos no ônibus para Campina às sete horas da manhã, fome, sede, sono. Sono que me acompanhou durante toda viagem, dormi feito pedra no velho e famoso Real Bus. Chego em minha casa, durmo, reflito e concluo que era melhor ter ficado em Campina Grande com minhas putas tristes, visitando os bordéis, fazendo contatos, me embriagando em casa. Ou estado sozinho em João Pessoa. Das duas opções a última, e ela vou cativar até o próximo Reveillon, sozinho na praia.

P.s.: A acompanhante/companheira é uma amiga.